| 10/08/2009 19h05min
El Niño, aquecimento global e estiagem são mudanças no clima que afetam diretamente as lavouras. No caso da soja, a produção brasileira apresenta características diferentes para cada região produtora, o que é fator determinante para a administração e o desenvolvimento da lavoura.
A estiagem que atingiu a lavoura de 200 hectares de soja do produtor Francisco de Assis Souza, em novembro do ano passado, durante a fase de germinação, o obrigou a refazer o plantio o plantio um mês mais tarde. O sojicultor conta que a área replantada se desenvolveu bem até o mês de março, mas, na época de enchimento dos grãos, uma chuva de granizo provocou uma perda de 30% da safra. O agricultor é do município de Morrinhos, no interior de Goiás, e diz que as mudanças no clima da região alteram também a estratégia de produção a cada ano.
— Agora o plantio é para a gente ir jogando um pouco pra frente, para ver se acompanha o desequilíbrio que está havendo de chuva na região — diz Souza.
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, estudos projetam um aumento de três a quatro graus celsius nas áreas produtoras de soja do país nos próximos 50 anos. As temperaturas mais altas, resultantes do aquecimento global, podem provocar perdas significativas na lavoura.
— Uma das projeções do aquecimento global é a variabilidade da água, o ciclo hidrográfico vai ser muito maior. Em muitos lugares, nós vamos ter chuvas mais intensas e secas mais intensas também — explica Nobre.
Ninguém duvida de que o aquecimento global seja uma ameaça, mas ainda não é possível medir os impactos a curto prazo. Os efeitos deste fenômeno são graduais e demoram décadas para aparecer. Enquanto isso, o produtor rural tem o desafio de produzir mais alimentos para amenizar a fome crescente no mundo.
O modelo matemático que serve de base para a previsão da temperatura do oceano mostra o início do fenômeno El Niño. Caracterizado pelas chuvas acima da média durante a primavera e o verão no Sul, e verão mais seco no Nordeste, o El Niño é uma boa notícia para a lavoura de soja. O produtor precisa ficar atento porque as características do clima em relação à última safra vão mudar.
A previsão aponta águas do oceano pacífico mais aquecidas, próprias de um novo episódio de El Niño. Dentro de três meses, o fenômeno deve começar a dar sinais no clima da Terra.
— O período de plantio da soja de uma forma geral no Brasil começa a partir de final de setembro nesse período o que se espera é que o El Niño comece a dar os primeiros sinais de influência no clima e vai ser mais significativo a partir de novembro e dezembro. São períodos justamente de plantio, o solo deve estar com boa umidade e no período de desenvolvimento da planta, de enchimento de grãos. Devemos ter chuvas mais regulares para a região Sul e em estados próximos à região Sul e isso é bom — conclui o especialista do Inmet Mozar de Araújo Salvador.
O sojicultor Francisco de Assis Souza, que sofreu com a estiagem durante a época de plantio na safra passada, este ano pode ficar tranquilo, porque a chuva vai chegar em outubro.
A previsão para as regiões Centro-oeste e Sudeste, com destaque para os Estados produtores de soja de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais é de verão mais definido. Em tempo de El Niño, a chuva apresenta bom volume e chega mais cedo. Plantando na hora certa, a soja vai ser colhida na hora certa e vai sobrar tempo para o milho safrinha.
Para a região Sul, nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, e para Mato Grosso do Sul, a previsão é de chuvas acima da média e regulares durante a primavera e o verão. O risco de estiagem que prejudicou a última safra é bastante reduzido.
Já para as regiões Norte e Nordeste: sul do Maranhão, Piauí, Tocantins e oeste da Bahia, o cenário é de antecipação das chuvas para outubro e novembro, momento certo para o plantio. Isso porque nos meses de fevereiro e março as chuvas não vão se prolongar, evitando o período de cheias do início deste ano.
Períodos com ocorrência de El Niño são caracterizados por boa produtividade. Como em 2007, quando o Brasil colheu a maior safra de soja da história, cerca de 60 milhões de toneladas. Mas o agricultor precisa observar bem as características do fenômeno para ter uma boa safra este ano. No caso da região Sul, o perigo é o excesso de chuva. Já na região Norte, o risco é de estiagem na fase de floração da lavoura.
— Você tem que analisar sempre se aquele período de desenvolvimento da planta é mais necessário você ter um volume maior de chuva, portanto, você está na região sul e tem uma probabilidade maior de chuvas acima, então você tem aí um clima favorável. Se no período da sua cultura você necessita menos chuva talvez no período de colheita é interessante que não se chova e essa região vai ter chuvas acima da média, então a chuva passa a ser prejudicial então essa questão de chuvas em excesso ou chuvas abaixo da média depende muito do tempo da cultura e do estágio onde ela se encontra — finaliza Salvador.
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