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 | 14/05/2008 07h12min

Crise de confiança volta a abalar a Argentina

Inflação em alta, conflito entre governo e ruralistas e rumores de novo confisco bancário reavivam fantasmas do passado para população do país vizinho

Em meio ao aumento da inflação e a um clima de tensão crescente entre o governo argentino e os produtores rurais, o país agora vive o fantasma de um novo corralito, confisco bancário ocorrido em dezembro de 2001, e de desvalorização do peso ante o dólar.

O Banco Central da Argentina teve de intervir no mercado e já injetou cerca de US$ 1 bilhão, desde a última semana, para segurar a cotação. Ontem, a moeda norte-americana fechou a 3,21 pesos.

A procura por dólares cresceu em razão de rumores e correntes de mensagens na internet de que era iminente um confisco bancário. O fato de vários bancos ficarem sem cédulas da moeda norte-americana, diante da forte demanda, na sexta-feira passada só aumentou a tensão.

Enquanto a equipe econômica do governo se manteve em silêncio, a presidente do estatal Banco de la Nación, Mercedes Marcó del Pont, tentou dissipar os medos e negou que há condições para uma crise semelhante à vivida há cerca de seis anos e meio.

Economistas do setor privado concordam que a situação é outra. As reservas do Banco Central argentino superam US$ 50 bilhões. Além disso, a maioria dos depósitos está em pesos e não em dólar, como em 2001 - por isso, os bancos estariam preparados para uma eventual corrida.

– Os argentinos vivem assustados pelos fantasmas do passado e esses fantasmas levam muitas pessoas a retirarem seus depósitos e comprarem dólares. O governo precisa dar mais certezas – afirma Marina Dal Poggetto, economista da consultoria Bein & Associados.

Para piorar a situação, há sinais de esfriamento econômico, como desaceleração na venda de imóveis, por exemplo. De acordo com a Fundação Mercado, que mede a confiança do consumidor, a inflação ultrapassou o limite do aceitável para os argentinos. Diante das incertezas, deixam de comprar a prazo.

Cristina Kirchner critica atuação da imprensa

Além disso, o conflito com o setor agropecuário pode provocar fissuras na base política do governo. Diante da pressão dos líderes ruralistas, do descontentamento da população e da falta de solução para o problema, alguns governadores buscam se diferenciar do Executivo federal. Para fortalecer politicamente o governo da mulher, o ex-presidente Néstor Kirchner deve assumir o Partido Justicialista. A presidente Cristina Kirchner já escolheu um culpado: a mídia.

– O importante é mostrar sempre que as coisas estão mal, horríveis, e que estarão piores amanhã, para que nenhum argentino pense em ser otimista – criticou Cristina nessa terça-feira, dia 13, numa inauguração de obras em Córdoba, a respeito da atuação da imprensa.

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