| 31/08/2008 10h38min
Durante todo o primeiro mandato e parte do segundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma linha direta de consultas com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mantida por meio de conversas secretas dos então ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Márcio Thomaz Bastos, da Justiça.
A linha direta funcionou com mais vigor no auge do escândalo do mensalão, quando os ministros pediram a Fernando Henrique para agir e evitar que a oposição descambasse para pedir o impeachment de Lula. Ele atendeu e se posicionou publicamente contra o impeachment.
Os encontros foram confirmados ao Estado pelo ex-presidente, Palocci e Bastos. Palocci confirmou que esteve pessoalmente com Fernando Henrique “pelo menos cinco vezes”; Bastos disse ter conversado com ele pessoalmente apenas uma vez, em junho de 2005, momento em que crescia a onda do impeachment. Mas os contatos por telefone foram bem mais freqüentes, confirmam os três. Palocci e Bastos asseguram que Lula sempre
soube das conversas antes de
elas ocorrerem e foi informado do seu resultado depois.
Mais de uma vez, no entanto, em momentos de difícil enfrentamento com a oposição, Lula sugeriu a Palocci:
— Vai conversar com Fernando Henrique — disse.
E pelo menos uma vez, em dezembro de 2007, o presidente determinou expressamente que Palocci — então já fora do governo — procurasse o tucano para negociar o projeto de reforma política que pretendia enviar ao Congresso no começo de 2008. Palocci marcou a conversa, mas antes que ela acontecesse Lula desistiu de promover a reforma política.
Ao jornal Estado de São Paulo, Fernando Henrique elogiou Palocci e Bastos, confirmou as conversas e disse que elas foram possíveis porque os dois ex-ministros de Lula têm “noção institucional”. Estendeu o elogio ao chefe de gabinete Gilberto Carvalho:
— Esse também tem noção institucional — afirmou.
Lamentou que a linha de consulta tenha sido
interrompida em 2008. No começo, não foi difícil a Palocci procurar o
ex-presidente: além de manter excelentes relações com a oposição desde quando era ministro, ele tem a simpatia de Fernando Henrique desde que, prefeito de Ribeirão Preto, inaugurou uma estátua dele na cidade:
— Não foi fácil para ele — reconheceu o ex-presidente.
Do gesto, brotou afeto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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