| 03/06/2009 18h18min
O avanço da mecanização da colheita de cana pode criar o desemprego aos trabalhadores que ainda fazem o corte. Pensando nisso, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) lançou nesta quarta, dia 3, durante o Ethanol Summit, um programa de requalificação profissional.
Na última safra, em São Paulo, mais da metade da colheita já foi mecanizada. Daqui a dois anos, essa mecanização deve atingir 70% dos canaviais paulistas. Apesar disso, no Estado ainda existem em torno de 140 mil trabalhadores envolvidos no corte manual.
Como nos próximos anos essa imagem pode deixar de existir, o setor sucroenergético tenta encontrar alternativas para requalificar os trabalhadores que fazem o corte da cana. O projeto Renovação, lançado durante o evento, envolve a Única e mais três empresas privadas, além de ter o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento. O objetivo é requalificar sete mil trabalhadores por ano, oferecendo cursos, por exemplo, para operar máquinas.
— A Unica entra num trabalho junto às usinas, mas os trabalhadores entram no processo de selecionar, identificar quais as pessoas que seriam requalificadas tanto para permanecerem no emprego, na própria atividade sucroenergética, como também exercerem outras funções na própria comunidade — afirmou o diretor técnico da entidade, Antônio de Pádua.
— Nós vamos juntamente com a Unica, com as usinas, entender quais são as demandas que o setor tem em termos de requalificação profissional. Buscar juntamente com elas, os principais pontos aonde os trabalhadores rurais, toda a cadeia envolvida tanto na colheita quanto no plantio de cana possam ser qualificados e aí sem determinar prioridades de qualificação — acrescentou Márcio Farah, gerente comercial da Syngenta.
A idéia é que este trabalho seja colocado em prática logo. Por enquanto, o programa vai ocorrer nas regiões paulistas de Presidente Prudente, Piracicaba, Bauru, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Araçatuba. Porém, no futuro, o projeto deve ser ampliado para outros Estados.
— A mecanização não acontece de uma vez. Então, a cada ano nós queremos fazer um número maior. Neste primeiro ano, iniciamos com sete mil — disse a assessora de responsabilidade social da Unica, Maria Luíza Barbosa.
O presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-sul do Brasil (Orplana), Ismael Perina Jr. diz que outros programas de requalificação já vem acontecendo desde 2007. Naquele ano, o governo do Estado de São Paulo e a indústria paulista fecharam um acordo, o protocolo agroambiental. O projeto prevê o fim das queimadas nos canaviais, que acontece para facilitar o corte manual. O prazo é 2014 para as áreas mecanizáveis e 2017 para as não mecanizáveis.
— Cortadores de cana no passado já tem uma atividade de tratorista, de motorista. Então, isso vem acontecendo. Mas este especificamente foca e tem os números a serem cumpridos. Por isso, a importância dele, a participação de todo o setor requalificando essa pessoa que está na mão-de-obra do corte de cana — disse Perina.
De qualquer forma, o presidente da Cooperativa de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), José Coral, acredita que muitos trabalhadores que fazem o corte manual devem perder o emprego.
— Eu estou mais preocupado no futuro. A hora que esta pessoal que está aí desempregado e você vê uma criança querendo comer, uma mulher necessitando isso, o que você vai fazer? Hoje, nós ficamos com dó. Pagamos marmitex para um, damos um trocadinho para outro, eu quero ver no futuro — completou Coral.
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