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 | 18/05/2009 03h14min

Bordini afirma que Feijó fez captação paralela

Ele foi apontado pelo vice-governador como a pessoa que teria recebido a doação

Atualizada às 09h06min Lúcia Ritzel  |  lucia.ritzel@zerohora.com.br

Apontado pelo vice-governador Paulo Afonso Feijó como a pessoa que teria recebido R$ 25 mil da Simpala, concessionária da General Motors (GM), o tesoureiro da campanha da governadora Yeda Crusius, Rubens Bordini, negou ontem ter recebido os recursos. A Zero Hora (leia entrevista abaixo), Bordini confirmou ter lido o e-mail enviado por Feijó, mas sustentou ter ignorado a mensagem porque o vice-governador não tinha autorização para captar recursos.

Bordini confirmou também ter recebido uma mochila com brindes, enviada por Feijó. Negou, porém, que havia dinheiro junto com agendas, camisetas, squeezes e voucher de descontos, apanhados por um motorista do comitê.

Em entrevista ao jornal, o tesoureiro disse que o vice-governador montou uma estrutura independente durante a campanha. Bordini teria pago algumas despesas de Feijó, mesmo sem ter conhecimento de como funcionava o comitê do vice-governador ou quem trabalhava lá.

Bordini citou ainda outras pessoas que teriam a responsabilidade de entrar em contato com empresários. Ainda sobre o segundo turno, admitiu ter havido um período de descontrole, com várias pessoas entrando em contato com empresários. Contou que chegou a alertar os captadores, mas sua avaliação é de que o sistema nunca funcionou como ele gostaria.

Leia a entrevista com o ex-tesoureiro:

A seguir, os principais trechos da entrevista do ex-tesoureiro da campanha de Yeda Crusius e atual vice-presidente do Banrisul, Rubens Bordini, concedida ontem à noite a ZH:

Zero Hora – No e-mail que o vice-governador lhe enviou em setembro de 2006, ele diz que recebeu, em dinheiro, R$ 25 mil da empresa Simpala. Esse dinheiro chegou ao comitê?

Rubens Bordini
– Fico surpreso em saber que o vice-governador tenha buscado recursos, porque ele não estava autorizado a fazer captações e sim contatos com empresários para que eu fizesse a operacionalização dos recursos.

ZH – Mas quando o senhor recebeu o e-mail, o que entendeu dessa mensagem?

Bordini
– Simplesmente não tomei conhecimento, porque, se ele quisesse indicar algum empresário para doar recursos, deveria me passar o nome e o telefone do financeiro da empresa.

ZH – Mas não lhe pareceu estranho ele dizer “estou com 25 mil, recebi em cash da Simpala”?

Bordini
– Me causa surpresa ele ter dito isso porque não era ele quem devia fazer as captações.

ZH – Mas lhe causa surpresa agora ou causou na época?

Bordini
– Na época também, mas eu não tomei conhecimento, porque esses recursos não seriam reportados à campanha da governadora.

ZH – O vice-governador disse que recebeu o dinheiro. O senhor não cobrou dele a entrega?

Bordini
– Não, até porque ele tinha uma contabilidade paralela. O vice-governador tinha um comitê, contratou pessoas, e eu não tinha o menor conhecimento sobre o que ele fazia com os recursos que arrecadava.

ZH – Era comum o vice-governador receber recursos?

Bordini
– Eu não tenho informação sobre o que ele fazia.

ZH – Como o vice-governador sustentava esse comitê?

Bordini
– De algum material, ele me passou a conta. De algumas despesas. Mas eu não sei se ele fez alguma contabilidade na Justiça Eleitoral.

ZH – O vice-governador afirma que teria enviado o dinheiro em uma mochila, com o logotipo da empresa dele junto com brindes. Em uma resposta a ele, o senhor faz referência aos brindes. Como eles chegaram até o senhor?

Bordini
– Recebi a sacola com os brindes, mas sem nenhum dinheiro dentro. Eram umas agendas, squeezes (garrafas plásticas para água), camisetas e um voucher de desconto de matrícula.

ZH – E como ele enviou os brindes? Ele ligou avisando que iria mandar um pacote?

Bordini
– Ele já havia comentado que iria enviar. O dia em que estava pronto o pacote, um motorista foi buscar.

ZH – O motorista que foi buscar a mochila com Feijó era da confiança de vocês?

Bordini
– Sim, era motorista da campanha.

ZH – Existe a possibilidade de esse dinheiro ter sido desviado entre o escritório de Feijó e o comitê de campanha?

Bordini
– Não, imagina.

ZH – Quem mais tinha autorização para fazer os contatos para a captação?

Bordini
– No primeiro turno, tinha uma equipe. No segundo turno, aumentou bastante o número de pessoas. Eu até perdi o controle. Era até uma das coisas que eu brigava muito com o pessoal. Várias pessoas faziam contato com o mesmo empresário. Isso é muito ruim, porque, imagina, o cara está trabalhando, liga um pedindo dinheiro para Yeda, depois, liga outro pedindo dinheiro para a Yeda. Então, eu dizia: “Se combinem e cada um faz contato com um”. Mas isso nunca funcionou. Mas nós tínhamos lá o Proença, o Onyx, o Crusius (Carlos Crusius), o Sérgio Camps. Esses faziam os contatos.

ZH – E o vice-governador agia de maneira independente?

Bordini
– Ele não era independente. Ele fazia parte desse grupo. As pessoas se reuniam e combinavam: “Vamos captar”. E cada um saía a fazer seus contatos.

ZH – Mas o senhor falou em contabilidade paralela.

Bordini
– Ele alugou um prédio na Nilo Peçanha, e tinha umas pessoas que trabalhavam com ele. Não sei se eram funcionários da empresa dele. Realmente, não sei. Era o comitê dele. Ele mandou fazer uns banners para colocar na frente do prédio. Depois, eu paguei esses banners. Ele mandou rodar material gráfico, e eu também paguei depois.

ZH – Mas então ele não tinha contabilidade paralela, já que as despesas dele foram pagas pelo comitê?

Bordini
– Ele me mandava a conta depois que já havia feito a despesa. Ele tomava a decisão de gastar. E, no fim, eu pagava. Eu também não sei havia pessoas lá (no comitê) e nem quem eram, mas eu imagino que ele tivesse uma estrutura lá.

ZH – Ele captou durante todo o primeiro turno e depois foi excluído da campanha?

Bordini
– Excluído ele nunca foi. A candidatura sempre foi vinculada.

ZH – A governadora diz que lá por julho avisou para ele que outras pessoas iriam captar recursos. O vice-governador teve exclusividade na captação?

Bordini
– É possível que, nessa época, lá por julho, sim.

ZH – Mas a governadora tentou tirar o vice-governador, não queria ele nem como vice.

Bordini
– No segundo turno teve uma campanha suprapartidária, em outro prédio. Eu também não controlei muito o que acontecia lá. Eles mandavam as contas, e eu pagava. Mas como a governadora não se envolveu muito nisso, é bem possível que ela não soubesse. Ela sempre deixou a parte financeira sob minha responsabilidade.

Entenda as etapas da crise no Piratini e saiba quem são os personagens dessa história:



Quem é Bordini
> Tesoureiro da campanha de Yeda Crusius ao Piratini, o economista Rubens Bordini é hoje vice-presidente do Banrisul.
> Foi escolhido pela então candidata para coordenar o comitê financeiro por ser pessoa de sua extrema confiança.
> Ex-aluno de Yeda na faculdade de Economia da UFRGS, tinha sido tesoureiro das outras campanhas de Yeda como candidata a prefeita de Porto Alegre (duas vezes) e a deputada federal.
> Na campanha de 2006 também era responsável pelos pagamentos aos prestadores de serviços.

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