| 09/06/2008 21h57min
As quatro organizações agropecuárias em conflito com o governo da Argentina comemoraram o investimento em obras sociais anunciado nesta segunda-feira, dia 9, pela presidente Cristina Kirchner, mas questionaram a origem dos fundos derivados exclusivamente do setor rural.
Em mensagem transmitida em rede nacional, a presidente do país, Cristina Fernández, anunciou a criação de um "programa de redistribuição social" que destinará o arrecadado com o aumento dos impostos à construção de hospitais, postos de saúde, casas e estradas rurais.
– Há outros setores que têm tanta renda quanto o nosso – disse em entrevista coletiva o presidente das Confederações Rurais Argentinas, Mario Llambías.
O dirigente afirmou que "a pobreza está aumentando" e que é "dever de todos" erradicá-la, "mas isto não quer dizer que as retenções sejam válidas por este motivo".
Com o aumento dos impostos, a taxa sobre os grãos vendidos para o mercado externo subiu de 35% para quase 42%, mas ainda pode chegar a 52,7%, caso os preços dos produtos subam.
O presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, também disse que é "inegável que é preciso solucionar a pobreza", mas destacou que o esforço deve ser mais uniforme e compartilhado com outros setores produtivos.
Críticas ao campo
No discurso em que anunciou a medida, a governante disse que os tributos impostos em 11 de março às exportações de milho, trigo, girassol e soja têm como fim resguardar a "soberania alimentar" dos argentinos e assegurar a redistribuição da riqueza "daqueles setores que têm mais renda".
Além disso, criticou a reação daqueles que se recusam "a contribuir com a redistribuição da renda para aqueles que menos têm", em uma clara referência aos produtores rurais, que há três meses bloqueiam estradas e promovem outras medidas de protesto.
Negociações devem continuar
Cristina, que nesta terça-feira, dia 10, completará seis meses no governo e cuja popularidade despencou com o aumento da inflação e o conflito com o campo, também convocou "todos os argentinos" para que, em um diálogo "sem imposições", tratem dos "temas pendentes" do país.
– A presidente convocou todos. Espero que também nos convoque o mais rápido possível para discutir a sério uma política agropecuária integral – rebateu Buzzi.
O governo rompeu o diálogo com as entidades agropecuárias há duas semanas e nesta segunda não enviou representantes para uma reunião com os produtores rurais convocada pelo defensor público do país, Eduardo Mondino.
Em resposta, Mondina enviou uma nova carta à chefia de gabinete e ao Ministério da Economia para que seus titulares se apresentem nesta terça. Além disso, anunciou que pedirá uma audiência com Cristina.
O defensor também pediu às organizações agropecuárias que, em nome de negociações tranqüilas, não promovam ações diretas de protesto. Buzzi reconheceu que entre os produtores há "muito mal-estar". Porém, pediu às bases que mantenham "a calma" e ajam "com racionalidade".
A Argentina é o maior exportador mundial de sementes de girassol, o segundo de milho, o terceiro de soja e o quarto de trigo. Além disso, ocupa postos de relevância no comércio global de derivados (óleos e farinhas) destes grãos.
AGÊNCIA EFE