| 16/05/2008 06h50min
Único país com cerca de 100 milhões de terras agricultáveis ainda não plantadas, o Brasil é a aposta do mundo para suprir a carência global por alimentos. A dúvida que resta é em que ritmo a agricultura nacional irá crescer para fazer frente à demanda, e como o país aproveitará o aumento de preços no mercado mundial.
Para o analista Alexandre Mendonça de Barros, da GV Agro, o país caminha a passos curtos. A produção brasileira de grãos projetada para este ano é novamente recorde: 142 milhões de toneladas, 10% a mais do que no ano anterior. Festejado, o resultado é no entanto bem menor do que a colheita americana, que supera as 400 milhões de toneladas, se levados em conta apenas os principais grãos e cereais. Na safra 2017/2018, o Ministério da Agricultura projeta que o Brasil colherá 161,5 milhões de toneladas (soja, milho, arroz, trigo e feijão), ou seja, 26,8% mais na relação com a safra 2006/2007. Mas os próprios estudos da pasta admitem que o potencial é maior - o país poderia colher uma safra de 227 milhões de toneladas até 2020.
A velocidade com que a agricultura brasileira responderá depende muito de como o país enfrentará seus principais gargalos nas áreas de infra-estrutura, tecnologia e política agrícola.
– Não adianta termos os melhores preços do mundo no campo, se o governo não investir em infra-estrutura – pondera Gabriel Desciallo, analista da Agência Rural.
O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários, Wilen Manteli, estima que somente as deficiências nos portos consomem 5% do valor da produção brasileira exportada (nos buracos das estradas ficariam outros 5%). Exemplos práticos de prejuízos aos produtores não faltam. A indústria de adubos calcula gastar US$ 250 milhões por ano no pagamento de navios que não conseguem descarregar ao chegar, seja por superlotação ou dificuldade de ingressar na zona portuária devido a falta de calado. Essa conta é repassada ao produtor, que paga mais pelo fertilizante e recebe menos pelo grão que vende, para compensar a perda de competitividade, afirma Manteli.
O problema não está apenas do lado de fora das fazendas. Embora haja no país propriedades altamente eficientes, os resultados médios da lavoura brasileira deixam muito a desejar. A produtividade média do milho no Brasil na safra passada foi de 3,7 mil quilos por hectare, enquanto nos Estados Unidos é quase três vezes maior, de 9,5 mil quilos por hectare. A diferença traduz as dificuldades de produtor brasileiro de obter financiamento para utilizar alta tecnologia.
Mas a saída não está apenas em mais dinheiro. Elísio Contini, assessor da Embrapa, afirma que a resposta à demanda crescente por alimentos passa pelo uso e desenvolvimento de variedades mais eficientes, especialmente por meio de manipulação genética.
– Na década de 70, tivemos um cenário como o atual, com altos preços e falta de alimentos. Isso permitiu a revolução verde (salto tecnológico no campo com mecanização e desenvolvimentos de insumos mais eficientes), que triplicou a produção mundial entre as décadas de 70 e 90. Agora, estamos entrando na revolução da biotecnologia, que permitirá elevar significativamente a produtividade – lembra Contini.
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