| 07/04/2008 04h45min
A demissão de 109 examinadores de trânsito por uma fundação e sua recontratação por outra em um único dia, 12 de maio de 2007, indica que o suposto esquema de propina no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) obedecia a um planejamento detalhado.
A manobra foi necessária porque, dois dias antes de dar início ao serviço contratado com o órgão, a Fundação Educacional e Cultural para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (Fundae) não dispunha de estrutura para realizar o trabalho.
Por trás da negociação do novo contrato estaria a Pensant Consultores, empresa que a Polícia Federal (PF) indicou como mentora da fraude milionária na autarquia.
A troca de fundações que prestavam serviço ao Detran foi um dos capítulos do esquema criminoso apurado pela Operação Rodin. Conforme o Sindicato dos Instrutores e Examinadores de Condutores de Veículos Automotores, foram sócios da Pensant que trataram da transição da Fundação de Apoio à
Tecnologia e Ciência (Fatec) para a
Fundae.
Em meio a um tumultuado e apressado processo de construção de acordo de trabalho, 109 examinadores foram demitidos pela Fatec na manhã de 12 de maio e recontratados pela Fundae na tarde do mesmo dia. A pressa se devia ao fato de que, no dia 14 de maio, uma segunda-feira, a Fundae teria de começar a prestar os serviços ao Detran em substituição à Fatec.
Depois de acordo, deputado
levou sindicalistas ao Piratini
O diretor do sindicato Valter Ferreira da Silva garante que, à época da transição, os trabalhadores foram pressionados a pedir demissão sem direito a indenizações. Só dessa forma, segundo ele, teriam a garantia de emprego junto à Fundae.
Ao saber das supostas pressões, o sindicato procurou o então diretor-presidente do Detran, Flavio Vaz Netto.
— Dissemos a Vaz Netto que a gente faria umas denúncias. Eles (Fatec) teriam de explicar como ficaram quatro anos
cobrando 30% a mais e agora uma empresa do mesmo grupo (Fundae) entrou
cobrando 30% a menos — disse o sindicalista.
Segundo Silva, a resposta de Vaz Netto consistiu em reuniões na sede da Pensant, em Porto Alegre. Na tarde de 10 de maio, um acordo para que os examinadores fossem demitidos com direito a indenização e depois recontratados foi firmado verbalmente.
Conforme o sindicalista, Silvestre Selhorst, então secretário executivo da Fatec, e um representante da Fundae disseram que se encontrariam com a governadora Yeda Crusius no mesmo dia e propuseram que o diretor do sindicato participasse. Ficou acertado que os sindicalistas iriam até o gabinete do deputado Rossano Gonçalves (PDT), na Assembléia Legislativa, para depois serem levados ao Piratini.
— Houve essa audiência. Só não me recordo quem me pediu que recebesse o pessoal do sindicato para conseguir uma agenda com a governadora. Esse foi meu papel, e fui até lá com eles — disse Rossano neste domingo.
O deputado também explicou que conhece
os sócios da Pensant Consultores e que um deles,
Ferdinando Fernandes, esteve em seu gabinete naquele dia, antes da audiência com Yeda. Acompanhados por Rossano, Silva e José Nivaldo Brum, também do sindicato, foram recebidos pela governadora.
— Ela perguntou se a gente tinha conseguido se acertar, se as coisas tinham se fechado porque ela não queria o prejuízo dos trabalhadores — relata Silva.
Por intermédio do porta-voz do governo, Paulo Fona, Yeda disse ontem que não se recorda da reunião. Informou ter recebido Rossano algumas vezes fora da agenda.