| 05/04/2008 03h41min
O silêncio que o professor universitário Dario Trevisan de Almeida, 53 anos, apresentou à CPI do Detran abriu caminho para uma avalancha de ações semelhantes.
Nesta sexta, a CPI foi informada de que Alfredo Pinto Telles, Rosana Ferst e Elci Terezinha Ferst, que vão depor na segunda-feira, foram beneficiados por habeas corpus e podem ficar calados quando julgarem necessário. Patricia Bado dos Santos, mulher do ex-diretor-presidente do Detran Carlos Ubiratan dos Santos, também teve o benefício.
A assessoria jurídica da comissão tentará amenizar os efeitos da decisão judicial.
— Entramos com um pedido para que a juíza Simone (Barbisan, da Justiça Federal de Santa Maria) delimitasse o alcance do direito ao silêncio apenas para questões de auto-incriminação — disse o presidente da CPI, deputado Fabiano Pereira (PT).
Por trás da falta de respostas do professor Trevisan, na sessão que se estendeu até a madrugada de ontem, há 21 páginas
de um depoimento que durou 24 horas na Polícia
Federal, em novembro do ano passado. Para justificar o silêncio na CPI, a defesa de Trevisan diz que tudo que o professor sabia sobre a fraude que lesou o Detran já fora repassado à PF e que, portanto, ele não se exporia em um ambiente marcado por "interesses políticos".
— Achamos melhor silenciar sobre perguntas diretas por entendermos que os interesses políticos do caso em questão podem prejudicar a análise adequada e imparcial que o problema merece. Vamos prestar para a juíza federal todo e qualquer esclarecimento que nos for solicitado, eis que confiamos na imparcialidade do Poder Judiciário — explicou o advogado de Trevisan, Daniel Gerber.
Trevisan repetiu que tudo o que sabia havia sido dito à PF
À 0h31min de sexta-feira, Trevisan anunciou que repassaria à CPI cópia do seu depoimento à PF e que se manteria em silêncio caso a sessão prosseguisse. Depois de ler o depoimento, os deputados decidiram fazer perguntas.
Trevisan, com voz compassada, repetiu
quase 30 vezes a mesma idéia, em frases com poucas variações: "Excelência, eu vou permanecer em silêncio" e "Todas as declarações eu fiz junto à Polícia Federal". Os deputados insistiram até que, às 2h54min, Trevisan quebrou o silêncio por dois minutos, para responder ao deputado Elvino Bohn Gass (PT), que falara sobre o exemplo que o professor estava dando a seus alunos:
— Cheguei no meu primeiro dia de aula e disse para meus alunos: eu fui indiciado pela Polícia Federal por fazer um trabalho para a universidade, para a Fatec, sei lá. Quando tiverem alguma coisa a me perguntar, nós podemos conversar em sala de aula.
Zero Hora teve acesso ao teor do depoimento que Trevisan deu à PF, entre os dias 7 e 8 de novembro. Nas 21 páginas, ele contou detalhes do funcionamento da fraude e confirmou que havia pagamento de propina mensal no valor de R$ 450 mil.
Na oitiva que se estendeu pela madrugada, Trevisan falou por apenas dois minutos
Foto:
Marcos Nagelstein