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 | 28/03/2008 00h56min

Cristina pede fim da greve na Argentina

Em discurso conciliador, a presidente disse que está aberta ao diálogo com produtores rurais

Em discurso na noite desta quinta-feira, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou que as portas da Casa de governo estão abertas para o diálogo com as patronais agrárias, desde que suspendam a greve declarada há duas semanas, que mantém bloqueadas as principais estradas do país.

— Peço que suspendam a greve para dialogar — disse Cristina, única oradora do grande ato peronista organizado por seu marido e antecessor no cargo, Néstor Kirchner.

Em um tom muito mais conciliador do que o utilizado na terça-feira, quando se referiu à greve dos produtores agrários como "piquetes da abundância" e advertiu que não cederia a "extorsões", a presidente insistiu:

— As portas da Casa Rosada (sede do governo) estão abertas, mas, por favor, suspendam a medida contra o povo. A presidente não pode negociar sem que se tenha suspendido as medidas de força que extorquem a população, é uma questão não de respeito à presidente, de respeito às regras da democracia.

Cristina foi recebida por Kirchner, a maior parte do governo, dirigentes peronistas e governadores durante o ato. A greve comercial do campo, convocada em protesto pelo aumento dos impostos à exportação de grãos, se transformou na primeira grande crise enfrentada pelo governo de Cristina em seus pouco mais de três meses de gestão.

O conflito se agravou na terça-feira, após o duro discurso da presidente, e gerou protestos populares, os famosos panelaços, em Buenos Aires e algumas das principais cidades do país. Segundo Cristina, os protestos urbanos não foram espontâneos, mas organizados antes de seu discurso e contaram com um forte componente político.

— Não tenho dúvida que parte dessas panelas são contra nossa política de direitos humanos, não tenho nenhuma dúvida, havia caras de defensores e de genocidas — disse ela.

Após o discurso, produtores
rurais decidiram manter a greve


Imediatamente após escutar o discurso desta quinta, dirigentes das quatro grandes patronais agrárias anunciaram sua intenção de se reunir para estudar a situação.

— O discurso é um chamado ao bom senso, à negociação, à conciliação. É uma mudança de expectativas, um discurso que merece um reconhecimento à atitude (da presidente) e que nos sentemos com as outras entidades para analisar o caminho a seguir — opinou o vice-presidente da Sociedade Rural Argentina, Hugo Biolcati.

O discurso de Cristina Kirchner havia levantado uma intensa expectativa durante todo o dia, no qual as patronais agropecuárias pediram ao governo a criação de um mecanismo de diálogo para depor as medidas de força. Minutos antes do discurso, alguns dos piquetes agrários que impedem o trânsito de caminhões com produtos alimentícios em estradas do norte do país suspenderam momentaneamente o protesto e prestaram atenção em sua mensagem.

No entanto, os piquetes não reduziram a tensão e as primeiras assembléias locais após o pronunciamento da presidente optaram por manter a greve.

— Que ponham as cartas sobre a mesa, vamos ver o que nos oferecem, e depois vemos se suspendemos a greve. A luta segue, temos que segui-la. Agüentamos 15 dias e podemos agüentar muito mais — advertiu Alfredo De Ángelis, presidente da Federação Agrária de Entre Ríos (nordeste), no meio de um bloqueio de estrada na localidade fronteiriça de Gualeguaychú.

Enquanto isso, em Buenos Aires, seguidores do governo se concentraram na emblemática Praça de Maio para expressar seu apóio a Cristina Kirchner, ao mesmo tempo em que manifestantes voltaram às ruas batendo panelas e frigideiras pela terceira noite consecutiva.

EFE

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