| 30/01/2008 11h54min
É possível manter uma propriedade agrícola de forma totalmente ecológica e sustentável? O espaço de Agroecologia montado no Centro Tecnológico Coopavel mostra que sim. A conversão de uma área de 3,5 mil metros quadrados da agricultura convencional para a agroecológica teve início há cinco anos, e nesta edição do Show Rural Coopavel o espaço já está totalmente adaptado e limpo de resíduos, garantindo uma produção 100% orgânica.
A área desenvolvida em parceria entre Embrapa, Iapar, Emater-PR, Itaipu Binacional e Coopavel reproduz uma pequena propriedade agrícola com plantas medicinais, pomar, horta diversificada e área de pastagem, além de lavouras de arroz, soja, milho e feijão. O resíduo verde e esterco produzidos na propriedade são reaproveitados na produção de adubo através da compostagem, e a combinação de espécies garante um equilíbrio natural para as culturas, garantindo o controle de pragas que costumam atacar as lavouras.
- A idéia deste projeto é
mostrar que é possível manter uma
propriedade eficiente de forma totalmente ecológica. A base é a diversificação, que garante equilíbrio ambiental e produção o ano inteiro para o agricultor. O princípio básico dessa propriedade é a biodiversidade - explica o pesquisador em agroecologia Alberto Feiden, da Embrapa Pantanal.
As variedades de grãos plantadas no local foram selecionadas pela Embrapa e pelo Iapar por seu alto potencial para a agricultura orgânica. São tipos de soja, milho, arroz e feijão que demonstraram boa capacidade de produção em um sistema sem uso de insumos químicos, garantindo uma produtividade semelhante às plantas convencionais - porém, sem uso de agrotóxicos e fertilizantes artificiais.
Para que a fazendinha esteja vicejante na época da Coopavel, integrantes da cooperativa trabalham o ano inteiro na área, sob orientação de técnicos da Emater. No inverno o espaço é cultivado com espécies que garantem a rotatividade do uso de cada pedaço do terreno. Depois de cinco anos de trabalho, a transição do sistema convencional para o agroecológico já está praticamente completa. Mas não foi assim desde o princípio - a mudança tem que ser feita em etapas.
- No primeiro ano plantamos só soja e milho. No segundo ano já deu pra diversificar um pouco mais, plantar algumas verduras folhosas. No terceiro ano os produtos colhidos aqui já podiam ser considerados orgânicos, sem nenhum vestígio químico – destaca Feiden, acrescentando que não há sinais de agrotóxicos nos alimentos mesmo com a proximidade de plantações de milho e soja de duas grandes empresas de insumos.
A cada ano o interesse pela área cresce. Muitos agricultores de pequeno porte procuram os pesquisadores e técnicos durante a feira para saber como ingressar na produção orgânicos, admirados com a beleza da fazendinha. Para evitar surpresas, o técnico agropecuário da Emater Ronaldo Antônio Fochesatto faz questão de explicar que o sistema ecológico gera uma demanda por mais mão-de-obra.
- Dá um pouco mais de trabalho, porque é preciso fazer a adubação verde de forma manual, uma sobressemeadura do campo, alternar o cultivo com plantas que agreguem nutrientes ao solo... mas em compensação há uma queda sensível nos gastos com insumos, e a qualidade de vida do trabalhador aumenta porque ele não tem contato com químicos, e vê a vida crescendo em sua propriedade - ressalta, lembrando que com o passar dos anos a necessidade de capina diminui porque a terra se torna mais estruturada a cada novo plantio.
O montante total produzido em uma propriedade agroecológica pode ser menor do que o obtido no cultivo tradicional, mas a soma do valor agregado dos produtos acaba sendo maior.
- É um alimento saudável, diferenciado, e há muita procura no mercado. O agricultor não tem despesa com insumos, então no final sobra mais dinheiro para ele. Além disso, como são cultivadas muitas espécies, há o que colher o ano todo, garantindo renda contínua.
Alberto Feiden
explica que quem quer cultivar
orgânicos deve começar com uma horta de folhosas, depois acrescentar raízes e outras hortaliças que não levam tanto agrotóxico. Vegetais como tomate, pimentão e berinjela, muito dependentes de defensivos, devem ser introduzidos quando o terreno já estiver com o equilíbrio orgânico estabelecido, reduzindo o risco de ataques de pragas.
Fochesatto e Feiden garantem que a transição dá retorno.
- Trabalho há sete anos orientando agricultores do Paraná neste projeto. Já são mais de 150 famílias, e a gente percebe a melhora na qualidade de vida, a satisfação de trabalhar - comemora Fochesatto.
CANAL RURAL
O pimentão, umas das hortaliças mais dependentes de agrotóxicos, já é cultivada com sucesso na fazendinha agroecológica da Coopavel
Foto:
Lenara Londero, Canal Rural