| 14/01/2008 06h05min
Fonte de cerca de 80% da matéria-prima para biodiesel no Brasil, o óleo de soja transformado em combustível acelerou a escalada de preços. De março a novembro, a cotação ganhou quase R$ 1 mil, também pelo efeito da entressafra. Analistas prevêem que essa participação diminua ao longo do tempo, mas os valores do grão e de seus derivados jamais voltarão ao patamar pré-energético.
– A demanda por biocombustível é estratosférica, porque o petróleo, um dia, vai acabar. A soja não vai continuar respondendo por 80% do óleo transformado em biodiesel, mas os preços não vão mais recuar ao nível anterior à subida geral – prevê
Amélio DallAgnol, da Embrapa Soja.
O pesquisador gaúcho vem se especializando em acompanhar as transformações que a indústria de biocombustíveis provoca no cultivo de mais de meio século no Brasil. Embora o país tenha capacidade instalada para 2,6 bilhões de litros de biodiesel, frisa DallAgnol, a maior parte das usinas está parada, à espera de valores mais atrativos nos leilões. Nesse vácuo, as indústrias gaúchas avançaram e garantiram o topo do ranking da produção, com potencial para mais de 400 milhões de litros ao ano.
DallAgnol lembra que o governo ensaiou basear o programa em mamona e dendê, por avaliar que demandariam mais mão-de-obra. Só que esbarrou no alto custo das lavouras, na demora para recuperar o investimento e na necessidade de grande extensão de terra. Arnoldo de Campos, coordenador do Programa de Biodiesel pelo Ministério do Desenvolvimento Agrária, tem outra versão:
– O governo sempre trabalhou tendo a soja como um instrumento básico para implantar o programa. O que queremos é não depender demais, porque isso pode encarecer os alimentos além do que se deseja.
Para DallAgnol, há "hipocrisia" no debate sobre a concorrência entre alimentos e energia desde que o tema dos biocombustíveis esquentou.
– Só está achando ruim quem não é produtor – justifica.
O pesquisador explica que não se planta soja para produzir
combustível, porque só 18% vira óleo, quase todo o resto é farelo.
Assim, o novo mercado só ajuda a valorizar o cultivo, não tira comida da boca do povo.
– Não precisa aumentar a área de plantio, à medida que fabricamos óleo, valorizamos o negócio - reforça Odacir Klein, presidente da Associação Brasileira do Biodiesel.
Meta é combinar óleos para evitar dependência
DallAgnol acrescenta que o custo dos insumos necessários ao cultivo subiu nos últimos anos. Admite, porém, que o preço do grão e seus derivados decolou em velocidade superior. Antes da mamona e do dendê, projeta, o que vai fazer alguma sombra é o girassol, que rende três vezes mais óleo e a sobra ainda pode ser usada para alimentar animais.
– Vai demorar alguns anos para ter uma opção à soja – admite Campos.
Enquanto isso não acontece, a meta do governo é combinar óleos - misturar sebo bovino, dendê, mamona e soja. Essa última combinação, adianta o coordenador do programa, é das melhores, porque a soja reduz a densidade do óleo de mamona, que por sua vez diminui a acidez do óleo do grão dominante nos pampas.
Toda a área de geografia e vegetação comuns, aliás, ensaia um tsunami de óleo de soja. Na Argentina, em decorrência das restrições à exportação de carne e da necessidade de encher os tanques do mundo de combustível vegetal, os produtores trocam pastagens por lavouras. Para este ano, projetam exportar 1,4 bilhão de litros de
biodiesel, com produção concentrada em Santa Fé.
a em Santa Fé.