| 23/10/2009 06h10min
Foto: Mauro Vieira
Nós, aqui na Província de São Pedro, estamos tão entranhados no Gre-Nal de domingo que mal conseguimos falar de outra coisa. Talvez a fracassada tentativa de impeachment da governadora Yeda Crusius, com direito a arremesso de tomate das galerias, tenha conseguido despertar gremistas e colorados do transe inevitável que antecede ao jogo do Beira-Rio. E só.
Depois que o Palmeiras se encarregou de incendiar o campeonato perdendo pela terceira vez seguida, desta vez para os veteranos do Santo André de Marcelinho Carioca, aí mesmo é que o universo passou a girar em torno do umbigo farroupilha. Se o Inter ganhar, fica a dois pontos do líder. Cabe ao Grêmio impedir e, de quebra, avançar
rumo ao G-4. Dinamite pura.
Pois vou levantar um tema que
nada tem a ver com Gre-Nal, mas me parece interessante.
Há um personagem feito sob encomenda para ser campeão em um ano no qual ninguém quer ser campeão. É ele. O indesejado Celso Roth.
Ninguém quer ganhar este campeonato. O Palmeiras podia ter transformado esta rodada em bocejo não tivesse enfileirado fiascos, dois deles contra times da zona do rebaixamento. O Inter perdeu uma chance de ser líder e duas de ser vice-líder, as duas primeiras em casa e a outra no Maracanã, diante do super Fluminense. O São Paulo passou de uma série invencível — as pessoas diziam: "olha o São Paulo chegando aí gente!" — para outra totalmente "vencível". Agora, o São Paulo não ganha de ninguém.
É o ano de Celso Roth. Só pode ser. Se Roth nunca foi campeão, e ninguém quer ser campeão este ano, a não ser ele mesmo, vai terminar dando Atlético-MG.
Para o futebol brasileiro seria um bálsamo.
Nenhuma torcida — eu disse nenhuma, sem chance de erro — merece tanto uma
grande festa de fim de ano quanto a do Atlético-MG. O último e único título foi em 1971. Nada de Copa do Brasil, de Libertadores, de Mundial, de Sul-Americana, de Recopa, nada. Só aquele distante Brasileirão, há 38 anos. E o Mineirão, durante este tempo todo, sempre lotado.
Seria uma vingança deliciosa para Roth, deportado do Olímpico pelos gremistas com a concordância tácita dos colorados.
Sejamos sinceros: o Rio Grande do Sul o expurgou.
Roth é bom treinador, do contrário não teria emprego só em grandes clubes nos últimos 12 anos. Atrapalha um pouco esse pequeno incômodo de nunca ter sido campeão, admito. Mas e se ele conseguir este ano, enfim? Qual seria a sua reação? De misericórdia, como Jesus ao perdoar os que o crucificaram? De raiva, como Zagallo e o seu "vocês vão ter que me engolir?". Ou de ódio e rancor, como Maradona? Eu apostaria na primeira hipótese, com alguns deslizes na direção das outras duas, que
ninguém é de ferro.
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