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 | 19/05/2010 03h59min

“Eles estão mordidos”, diz assessor Presidência sobre reação dos EUA ao acordo com o Irã

Marco Aurélio Garcia discorda da tese de que o Brasil está sendo usado pelo Irã

Léo Gerchmann  |  leo.gerchmann@zerohora.com.br

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, está bravo com os Estados Unidos e não nega. Até faz questão de deixar claro, pelo conteúdo do que diz e pelo tom da voz. Garcia prevê o isolamento americano por insistir nas sanções ao Irã e acusa a tentativa de minar as negociações brasileiras que levaram ao acordo nuclear envolvendo o país de Mahmoud Ahmadinejad, o homem que persegue mulheres e homossexuais, encarcera opositores, nega o Holocausto e prega a destruição de Israel. Sua tese é de que o pior seria encurralar o iraniano. Nesta entrevista concedida a Zero Hora por telefone desde Madri (onde acompanhava o presidente Lula), Garcia diz: o Brasil tomou uma iniciativa que deveria ter partido das potências internacionais. E isso as incomoda. A conversa ocorreu pouco antes da reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para examinar as sanções. Garcia, o principal conselheiro de Lula em assuntos externos – além do chanceler Celso Amorim –, começou a conversa dizendo que não queria falar. Mas falou. Confira:

Zero Hora – Como o sr. vê a iniciativa de levar ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) um esboço de documento para sanções ao Irã imediatamente após Brasil e Turquia terem conseguido um acordo para destravar o impasse na questão nuclear iraniana?

Marco Aurélio Garcia –
O governo americano está sendo criticado pela própria imprensa americana por não ter tomado essa iniciativa de negociação. Então, acho que é uma coisa meio complicada, porque vai ficar isolado na opinião pública. Hoje, o (Nicolas) Sarkozy (presidente da França), em nota, apoiou nossa iniciativa, a China deu uma nota apoiando, o Ban Ki-Moon (secretário-geral das Nações Unidas) disse que é um excelente passo que foi dado.

ZH – Mas a China não está apoiando o esboço que foi discutido ontem na ONU?

Garcia –
Meu querido, leia a nota do Ministério das Relações Exteriores... (Relato sobre os elogios ao acordo de segunda-feira, que a China manteve, mesmo vindo, depois, a defender punição prevista ao Irã, conforme consta no texto ao lado.)

ZH – O sr. acha que os EUA ficaram mordidos com a iniciativa brasileira?

Garcia –
Eles já estavam mordidos. Onde nós passávamos, os Estados Unidos haviam passado antes para desencorajar a iniciativa.

ZH – O recurso ao Conselho de Segurança é uma demonstração disso?

Garcia –
Se os EUA optarem pela sanção, eles vão se dar mal. Vão sofrer uma sanção moral e política. Cabe aos EUA decidir se querem ou não um new deal com o Irã (“novo acordo” ou “novo trato”, em inglês, foi o nome dado à série de programas implementados nos EUA entre 1933 e 1937 , sob o governo do presidente Franklin Roosevelt, para recuperar e reformar a economia americana e assistir aos prejudicados pela Grande Depressão).

ZH – Há quem diga que o Brasil foi ingênuo e está sendo usado pelo Irã, que se aproveita para ganhar tempo, enriquecer urânio e fazer a bomba. O que o sr. diz disso?

Garcia –
Ninguém pode dizer que nossa diplomacia é ingênua. O acordo não permite manipulações. Ou o Irã cumpre, ou não cumpre. Incomoda as potências que países emergentes cheguem a esse acordo. O Brasil estabeleceu a confiança, o que é importantíssimo.

ZH – Lula se comunicou com a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, durante a elaboração do acordo?

Garcia –
Falou com ela na noite de segunda-feira. Não falaram sobre o acordo, que ainda não havia sido efetivado.

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