| 12/08/2009 05h30min
Vinícius Rebello
Ouvi atentamente a entrevista de Paulo Autuori (foto), a primeira depois do bate-boca entre Tcheco e Souza, as duas estrelas do time que lavaram roupa suja em público. Como se sabe, o capitão disse que falta pegada fora de casa, no que foi repreendido por Souza.
Pois bem: com apenas uma entrevista, Autuori reduziu o assunto a migalhas. Ele foi lá, voz grave, jeito sereno, fala mansa, argumentos bem colocados, frases de impacto ("aqui no Grêmio existe
liberdade de expressão"), não brigou com ninguém ou pareceu estar tentando esconder algo e pronto: incêndio apagado.
Fico
imaginando como seria se o bombeiro fosse Celso Roth, que no ano passado liderava a esta altura do campeonato e, mesmo assim, era contestado.
Aqui vai uma crítica a Autuori? Não. Aqui vai um elogio a um profissional que adota a sinceridade como arma e está derrubando barreiras com esta postura.
É ótimo o que está acontecendo com Autuori no Grêmio. Mesmo com uma campanha distante da esperada pela torcida, que ainda espera uma vitória fora de casa no Brasileirão, o trabalho e o comportamento estão sendo reconhecidos. Trata-se de uma inequívoca evolução no imediatismo do futebol. Direção e torcida percebem que um projeto está em andamento, reconhecem as carências do time e apostam em um futuro melhor.
A forma como Autuori conduziu a discussão pública entre Souza e Tcheco é exemplar.
Em vez de acusar jornalistas de inventar crise, fazendo da imprensa o
inimigo imaginário a ser combatido e jogando-a contra a torcida — a maioria
faz isso, e os torcedores sempre ficam do lado do técnico, seja ele qual for — , Autuori preferiu o caminho da sinceridade. Em minutos, o fogo baixou e o assunto dominante já era de ordem técnica: onde Douglas vai jogar contra o Flamengo, quem será o substituto de Tcheco, as condições de Réver, a situação clínica de Maxi López e por aí afora.
Autuori admitiu a rusga. O que não é nenhum fim do mundo. O fato de dois colegas discutirem não os torna inimigos de morte, desde que o bate-boca não vire rotina. Concordou que Tcheco se excedeu e, de certa forma, deu razão a Souza no conteúdo. Não ficou em cima do muro, algo detestado pelos gaúchos. Depois, revelou que teve uma conversa com os dois para aclarar tudo.
Um show de sinceridade. Um golaço contra as esquivas, negações da realidade e factoides tão comuns para desviar o foco do episódio em questão.
Ele já havia sido corajoso ao condenar a necessidade de se
cometer muitas faltas para desarmar o adversário e ter
"pegada". Nunca é demais lembrar: com estes conceitos de futebol Autuori ganhou duas Libertadores (Cruzeiro e São Paulo), um Brasileirão (Botafogo) e um Mundial (São Paulo).
Posso estar enganado, mas Paulo Autuori está mudando o jeito de se pensar futebol no Grêmio em todos os sentidos. Ou, quem sabe, mostrando que não há um jeito apenas. Temos muito a aprender com o seu bom senso revolucionário.
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