O cenário
Falta policiamento e sobra insegurança
no centro de Santa Maria à noite
passos separam o Calçadão de Santa Maria da Avenida Rio Branco. Em média, uma pessoa demora seis minutos para percorrer o trajeto. Mas esse tempo pode virar uma eternidade se acompanhado do medo e da insegurança. Nos cinco dias _ 10 horas _ em que o Diário observou como é a rotina noturna dos locais que formam o coração da cidade, constatou-se a ausência de policiais e guardas depois das 19h30min. E o vazio deixado pelo policiamento é preenchido pelo medo, como contam estudantes, comerciantes e pessoas que passam pelo local:
"Saio à noite
do trabalho e nunca vejo policiamento. Tem sempre um grupo de jovens que mexe com a gente. Eles ficam na frente do shopping e é pior com mulher: é risco de assalto, de assédio.. A gente se sente bem insegura. Eu não sei se esse pessoal chega a assaltar. Eu nunca fui assaltada, mas eles mexem com a gente, e isso incomoda".
Aline Bevilaqua, 22 anos, que trabalha em uma farmácia do Calçadão.
O sentimento de Aline é compartilhado pelas mais de 35 pessoas que o Diário ouviu nos cinco dias do teste.
_Todo o mecanismo de fuga e de ansiedade é antecipatório. Ele impulsiona a pessoa a querer fazer as coisas o mais rápido possível. O medo faz a pessoa querer antecipar, conhecer rápido alguma coisa. Quando uma pessoa sente medo, a produção de adrenalina é enorme. Ela fica em estado de alerta, a pressão arterial sobe, os batimentos cardíacos aumentam e a respiração fica encurtada, ofegante. O medo e a ansiedade fazem uma duplinha. Nem sempre o ansioso tem medo. Mas quem tem medo, tem ansiedade _ explica a neuropsicóloga Denise M. C. Rodrigues.
"Tenho medo. Evito andar à noite porque a gente não tem segurança. A situação na cidade é preocupante, Santa Maria não é mais como antigamente."
Estudante Raquel Righi, 25 anos
Aglomeração de jovens
A insegurança sentida pelas pessoas ouvidas na reportagem não têm na falta de policiais sua única causa. A iluminação deficiente e a presença de grupos de jovens no Calçadão e na Praça Saldanha Marinho também são fatores importantes. Foi por causa dos grupos que o Shopping Santa Maria decidiu fechar as portas mais cedo no inverno.
_Vemos muitos grupos de adolescentes. Briga dá quase todo dia. Eles guardam facas nos canteiros _ conta Marcos de Oliveira, 33 anos, que trabalha em uma lancheria do Calçadão.
Lucimar Almeida de Oliveira, 42 anos, mulher de Marcos, diz que já presenciou atos de violência envolvendo os grupos:
_ Esses dias, a gente fechou (a lancheria), e eles vieram batendo nas portas, acho que com facão. Outro dia, eles correram da polícia. A polícia foi embora e, 10 minutos depois, eles vieram entre uns 20 batendo nas portas. Nós estávamos abertos. Achei que fossem entrar aqui, mas a farmácia estava fechada, e eles ficaram ali batendo na porta.
Segundo Felipe Stribe da Silva, professor de Direito Constitucional do Centro Universitário Franciscano, o guarda ou policial é visto como socorro:
_ As pessoas sentem que existe alguém ali por elas caso aconteça uma situação de conflito em que possam precisar de apoio. A existência de um guarda gera uma segurança no sentido de ter alguém a quem recorrer. Acredito que nos últimos dois, três anos, toda a cidade, todas as faixas etárias e diferentes níveis sociais têm sofrido com esse tipo de problema.
"Me sinto mais ou menos segura. Não tenho medo, mas a gente fica insegura. É muito raro ter policiamento à noite, a gente vê mais durante o dia."
Vera Lúcia Nascimento da Silva, 49 anos, servente de obras
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Relato anônimo de insegurança