Nos últimos dias reuniram-se
em Porto Alegre e em Nova York dois grupos antagônicos.
Se não antagônicos, pelo menos diametralmente
opostos na concepção de gerenciamento do mundo.
Entenda-se esse gerenciamento como a forma de eleger e administrar
políticas de desenvolvimento compatíveis com
a resolução dos principais problemas vivenciais
dos povos.
Durante a maior parte do século
que passou vivemos a dicotomia do mundo capitalista versus
mundo comunista. De um lado, o dinheiro como mola mestra do
desenvolvimento, onde, em tese, a competência seria
premiada com o aquinhoamento de mais e mais valores tornando
mais importantes os indivíduos que fossem mais capazes
de acumular fortunas. De outro, uma concepção
teoricamente igualitária, onde tudo pertenceria a todos
por igual. Teórica e utópica.
A História nos mostra
que, em nome dessa busca da fortuna, se procederam as mais
brutais atitudes, tanto de esperteza comercial, contábil
e fiscal, como de rapinagem, na mais correta das acepções
da palavra. Exemplos encontram-se aos montes nos noticiários
das páginas econômicas e policiais dos principais
jornais do planeta. E do outro lado, o mundo comunista resultante
da revolução russa de 1917 perdeu-se na incompetência
de seus dirigentes e na criação de uma casta
diretiva que levou à bancarrota o sonho da divisão
igualitária dos bens de capital.
Porém, devemos entender
(e a partir desses exemplos, mais ainda) que a humanidade
transcende a questões políticas de hegemonia
financeira ou político-institucional. O que temos no
mundo de hoje é uma infinidade de conflitos de níveis
étnicos, religiosos, econômico-financeiros e
de sobrevivência. E aí é que devemos nos
debruçar na busca da resolução desses
conflitos.
Não é possível
que alguém, em nome de um mandado divino (seja lá
o que isso a essa pessoa signifique), destrua vidas (principalmente
inocentes) e patrimônios alheios e que isso possa ser
para ele uma forma de agradar ao seu deus. Afinal, se todos
consideramos a existência de um deus como um ser superior,
esse ente especial não pode ser igual a nós,
meros mortais, que podemos sucumbir a sentimentos de vingança
ou de ódio. E também não é possível
que, na busca de alguém que vilipendiou nossa casa,
destruamos a casa do vizinho e toda a sua dignidade pela simples
suposição que o tal agressor lá esteja
escondido. A menos que estejamos usando essa suspeita como
forma de rapinar algo que o vizinho tenha e que nos pareça
importante. Nesse caso, seremos tão covardes quanto
o que nos agrediu.
Ao longo dos milhões e milhões
de anos em que a Humanidade povoou a Terra, surgiram povos
de cores, raças e nações diferentes,
com afinidades culturais e religiosas regionais. João
Carlos de Paixão Cortes, um folclorista famoso no nosso
meio, dizia no início de seus programas de rádio:
"Nada mais universal que o folclore, nada mais regional
que o folclore..." Isso quer significar que os povos
não são tão diferentes como queiramos
que sejam e, portanto, somos todos uma mescla de seres vivos
com afetos iguais, ânsias iguais, enfim vidas iguais,
com início, meio e fim mais ou menos parecidos. Por
que estabelecer as diferenças e destruirmo-nos por
causa delas?
Nesse sentido, um Fórum Social
Mundial, como o que vem ocorrendo anualmente em nossa cidade,
se reveste de importância enorme. Afinal, o que é
o social se não a divisão igualitária
de oportunidade de crescimento para indivíduos diferentes?
Reconhecer essas diferenças e estabelecer a melhor
forma de aproximá-las de um modelo único e plenamente
divisível, quem sabe talvez seja o grande desafio que
devemos encontrar para a solução dos problemas
do mundo! Para isso, no entanto, teremos de buscar lá
bem dentro de nós, onde está escondido o sentido
do amor e da tolerância.
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