É com prazer e orgulho
que destaco o sucesso do 2º Fórum Social Mundial
de Porto Alegre. De fato, um grande e alegre porto para quem
tem esperança de mudar o mundo. Um porto que reúne
democrática e pacificamente cerca de 60 mil participantes
de mais de 120 países, para refletir, propor e articular
ações que busquem a paz com justiça social
em todo o planeta. Um espaço novo que abriga ampla
diversidade de posições e de caminhos, contrastando
com o Fórum dos ricos e poderosos do mundo, que teve
de deixar às pressas a sua sede de mais de 30 anos
em Davos e rumar este ano para Nova York. Lá eles discutem
como acumular mais riquezas - aqui, nós lutamos para
distribuir com justiça as riquezas que a humanidade
produz com muito trabalho e talento.
Porto Alegre é uma
demonstração inequívoca, e mais uma vez
surpreendente, de renovação política
e cultural, de organização das forças
sociais, de propostas políticas concretas e de muita
alegria de viver da sociedade civil internacional. As minorias
conservadoras de todo o mundo, inclusive as do Brasil, que
defenderam e ainda defendem o pensamento único das
políticas neoliberais, devem estar impressionadas e
preocupadas com o grande poder de iniciativas do Fórum
Social Mundial.
Os movimentos que lutam sob
o lema de que "um outro mundo é possível"
enfrentaram, e ainda enfrentam, uma forte contra-ofensiva
por parte do governo dos Estados Unidos e seus aliados desde
o 11 de setembro. Nós condenamos de forma absoluta
os atentados terroristas. Mas os defensores da globalização
neoliberal tentaram desde então impor ao mundo uma
nova face do pensamento único - "quem não
apóia a política de guerra do presidente Bush,
está com o terrorismo" -, buscando criminalizar
os movimentos sociais, ONGs, sindicatos, igrejas, partidos
políticos e milhões de cidadãos e cidadãs
que se opõem ao neoliberalismo. A resposta já
está sendo dada em Porto Alegre: nós queremos
a paz com justiça social - e condenamos a política
de guerra dos conservadores em todo o mundo.
Os políticos neoliberais
ficaram mais de 10 anos prometendo aos povos crescimento econômico
e melhoria de vida, enquanto seus governos enfraqueciam o
Estado, solapavam a soberania nacional, privatizavam - a preço
de banana e muita corrupção - empresas estatais
construídas por gerações e se submetiam
totalmente ao Consenso de Washington e às diretrizes
do FMI.
E os resultados estão
aí para todo mundo ver. Aumento significativo da pobreza,
crescimento do fosso entre países ricos e pobres, extrema
vulnerabilidade das economias dos países em desenvolvimento,
profunda perda de direitos sociais e sucateamento de grande
parte da indústria e da pequena e média agricultura
em todo o mundo. Sem falar no desprezo absoluto dos poderosos
do mundo em relação ao meio ambiente e à
preservação das condições de vida
no planeta para a nossa e as futuras gerações.
E na violência crescente, que atormenta e vitima principalmente
os pobres, mas também as classes médias e as
minorias ricas das sociedades.
Sinto-me honrado por ter sido
convidado pelo comitê organizador do Fórum Social
Mundial para participar de momentos tão significativos
como esses que estamos vivendo em Porto Alegre. As oito importantes
organizações da sociedade civil brasileira que
têm conduzido esse processo, agora com o apoio de um
amplo e representativo Conselho Internacional, estão
de parabéns. O Instituto Cidadania, em parceria com
a Agência Carta Maior, programou e está realizando
quatro seminários durante os dias do evento: "Alca
e soberania nacional", "Um outro Brasil é
possível", "Políticas públicas
para o Brasil" e "Socialismo e democracia",
todos fruto de profundo trabalho de reflexão e pesquisas
realizadas nos últimos anos, abrangendo os mais amplos
setores sociais do nosso país.
Termino saudando a feliz decisão
do comitê de organização, para nós,
brasileiros, e em especial para o povo gaúcho e para
a população de sua capital, de realizar o 3º
Fórum Social Mundial, em 2003, novamente em Porto Alegre.
Que o processo de mundialização do Fórum,
baseado inclusive em muitos fóruns regionais e continentais,
continue se fortalecendo e se constituindo, na prática
e nas formulações políticas, no embrião
de um novo e democrático poder mundial da sociedade
civil organizada.
|