O sucesso do 2º Fórum
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT

     É com prazer e orgulho que destaco o sucesso do 2º Fórum Social Mundial de Porto Alegre. De fato, um grande e alegre porto para quem tem esperança de mudar o mundo. Um porto que reúne democrática e pacificamente cerca de 60 mil participantes de mais de 120 países, para refletir, propor e articular ações que busquem a paz com justiça social em todo o planeta. Um espaço novo que abriga ampla diversidade de posições e de caminhos, contrastando com o Fórum dos ricos e poderosos do mundo, que teve de deixar às pressas a sua sede de mais de 30 anos em Davos e rumar este ano para Nova York. Lá eles discutem como acumular mais riquezas - aqui, nós lutamos para distribuir com justiça as riquezas que a humanidade produz com muito trabalho e talento.

     Porto Alegre é uma demonstração inequívoca, e mais uma vez surpreendente, de renovação política e cultural, de organização das forças sociais, de propostas políticas concretas e de muita alegria de viver da sociedade civil internacional. As minorias conservadoras de todo o mundo, inclusive as do Brasil, que defenderam e ainda defendem o pensamento único das políticas neoliberais, devem estar impressionadas e preocupadas com o grande poder de iniciativas do Fórum Social Mundial.

     Os movimentos que lutam sob o lema de que "um outro mundo é possível" enfrentaram, e ainda enfrentam, uma forte contra-ofensiva por parte do governo dos Estados Unidos e seus aliados desde o 11 de setembro. Nós condenamos de forma absoluta os atentados terroristas. Mas os defensores da globalização neoliberal tentaram desde então impor ao mundo uma nova face do pensamento único - "quem não apóia a política de guerra do presidente Bush, está com o terrorismo" -, buscando criminalizar os movimentos sociais, ONGs, sindicatos, igrejas, partidos políticos e milhões de cidadãos e cidadãs que se opõem ao neoliberalismo. A resposta já está sendo dada em Porto Alegre: nós queremos a paz com justiça social - e condenamos a política de guerra dos conservadores em todo o mundo.

     Os políticos neoliberais ficaram mais de 10 anos prometendo aos povos crescimento econômico e melhoria de vida, enquanto seus governos enfraqueciam o Estado, solapavam a soberania nacional, privatizavam - a preço de banana e muita corrupção - empresas estatais construídas por gerações e se submetiam totalmente ao Consenso de Washington e às diretrizes do FMI.

     E os resultados estão aí para todo mundo ver. Aumento significativo da pobreza, crescimento do fosso entre países ricos e pobres, extrema vulnerabilidade das economias dos países em desenvolvimento, profunda perda de direitos sociais e sucateamento de grande parte da indústria e da pequena e média agricultura em todo o mundo. Sem falar no desprezo absoluto dos poderosos do mundo em relação ao meio ambiente e à preservação das condições de vida no planeta para a nossa e as futuras gerações. E na violência crescente, que atormenta e vitima principalmente os pobres, mas também as classes médias e as minorias ricas das sociedades.

     Sinto-me honrado por ter sido convidado pelo comitê organizador do Fórum Social Mundial para participar de momentos tão significativos como esses que estamos vivendo em Porto Alegre. As oito importantes organizações da sociedade civil brasileira que têm conduzido esse processo, agora com o apoio de um amplo e representativo Conselho Internacional, estão de parabéns. O Instituto Cidadania, em parceria com a Agência Carta Maior, programou e está realizando quatro seminários durante os dias do evento: "Alca e soberania nacional", "Um outro Brasil é possível", "Políticas públicas para o Brasil" e "Socialismo e democracia", todos fruto de profundo trabalho de reflexão e pesquisas realizadas nos últimos anos, abrangendo os mais amplos setores sociais do nosso país.

     Termino saudando a feliz decisão do comitê de organização, para nós, brasileiros, e em especial para o povo gaúcho e para a população de sua capital, de realizar o 3º Fórum Social Mundial, em 2003, novamente em Porto Alegre. Que o processo de mundialização do Fórum, baseado inclusive em muitos fóruns regionais e continentais, continue se fortalecendo e se constituindo, na prática e nas formulações políticas, no embrião de um novo e democrático poder mundial da sociedade civil organizada.