O primeiro dia foi de festa,
apesar dos incidentes na solenidade de abertura. A multidão
que marchou do Largo Glênio Peres até o anfiteatro
Pôr-do-Sol fez um protesto ordeiro pela paz, com críticas
aos alvos de sempre - o neoliberalismo em primeiro lugar.
Os poucos que tentaram provocar tumultos foram neutralizados.
Até no protesto contra a Alca, a Área de Livre
Comércio das Américas, foi possível perceber
o cuidado dos organizadores para que atos pirotécnicos
não ofuscassem o principal, o grande encontro de povos
de todos os continentes.
Nenhuma bandeira dos Estados
Unidos foi queimada no protesto organizado pelo Sindicato
dos Bancários. Havia um pedido expresso do Palácio
Piratini para que a bandeira dos Estados Unidos fosse poupada
em respeito ao povo americano, abalado com os atentados de
11 de setembro. Em vez da bandeira, os manifestantes queimaram
réplicas de dólar e euro. O prédio invadido
na madrugada de ontem foi escolhido a dedo: trata-se de um
imóvel desocupado há muito tempo, que está
para ser transformado em apartamentos populares, por convênio
da prefeitura com a Caixa Econômica Federal.
Isso não significa que
até o final do Fórum será mantido o espírito
pacífico do primeiro dia. O Sindicato dos Metalúrgicos
promete invadir uma empresa para protestar contra o desemprego,
e a Polícia Federal mantém a vigilância
sobre o francês José Bové, temendo que
faça qualquer coisa parecida com o ano passado, quando
comandou a destruição de uma lavoura experimental
de soja transgênica em Não-Me-Toque.
A festa de abertura terminou
de forma melancólica. O público cansou da monotonia
do espetáculo e começou a debandar. A Missa
Luba, que deveria ser o ponto alto da abertura, começou
com mais de 40 mintuos de atraso, por conta de problemas técnicos.
Às 23h, o secretário
da Cultura, Luiz Marques, era só indignação
com o que classificou de "desastre provocado pelo comitê
nacional do Fórum", responsável pela coordenação
e direção de palco. Marques reclamou da descortesia
dos organizadores, que deixaram plantados na grama ilustres
convidados como Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-governador
Miguel Rossetto e até a ex-primeira-dama francesa Danielle
Mitterrand, impedidos de subir ao palco.
O secretário disse que
há um movimento de pessoas descontentes com o "fiasco"
de ontem "para que a tragédia não se repita
no encerramento". A secretaria quer antecipar o encerramento
da programação cultural de terça-feira
de manhã para a segunda-feira à noite. Faz sentido.
Está prevista a apresentação de uma escola
de samba no encerramento da programação. E samba,
imagina o secretário, não combina com o sol
do meio-dia.
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