Intolerância
Rosane de Oliveira

     Se a paz é o tema predominante no 2º Fórum Social Mundial, os organizadores deveriam ser os primeiros a cultivar a tolerância. Barrar a entrada do vice-presidente do Banco Mundial para Assuntos Externos, o norte-americano Mats Karlsson, e do primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt, é uma decisão autoritária, que macula o espírito de concórdia do Fórum. É diferente de vetar a presença de representantes da organização Pátria Basca e Liberdade (ETA), porque um fórum que elege a paz como tema não deve mesmo dar abrigo a terroristas.

     O veto ao primeiro-ministro belga é constrangedor para o governo do Estado, que paga boa parte da conta da estrutura do Fórum. Foi o Palácio Piratini quem na semana passada anunciou a presença de Verhofstadt e informou que ele faria uma palestra sobre globalização no dia 3 de fevereiro.

     Igualmente ridícula é a negativa em credenciar o vice-presidente do Banco Mundial. Os governos de esquerda se socorrem da instituição para seus projetos sociais - e o fazem porque os juros são menores -, mas a organização do Fórum diz que não teria como proteger um dos seus vice-presidentes da eventual ação de grupos de extrema-esquerda. Assustador.

     Karlsson veio a Porto Alegre como convidado do Fórum de Autoridades Locais. O encontro deverá se consagrar pela pluralidade e pela conseqüência. Pela natureza dos cargos que ocupam, os prefeitos encerraram ontem seu encontro com propostas concretas para combater a exclusão social. A rede de cidades será um instrumento de troca de experiências e ajuda aos mais necessitados. Começou por Buenos Aires e Rosario. Os alcaldes das duas cidades argentinas levarão de Porto Alegre o compromisso dos colegas de arrecadar medicamentos e insumos básicos para garantir o funcionamento de hospitais e centros de saúde.