Um pouco sobre os incluídos
Sílvio M. Lopes, jornalista

     Neste momento em que tanto se fala em excluídos, quem sabe nos detenhamos um pouco que seja no exercício saudável de descobrir que sociedades, e em que condições, conseguiram dar maior nível de bem-estar e conforto a seus integrantes. Ora, uma análise dessa natureza nos revela, de imediato, que foram aquelas sociedades que elegeram, no plano político, a democracia, no econômico, a economia de mercado e que, ao lado disso tudo, mantiveram o estrito respeito ao direito de propriedade e às diferenças de índole de cada pessoa, garantindo-lhes o direito ir e vir, de opinar e fazer aquilo que melhor esteja em sintonia com seus propósitos. Tudo isso, evidentemente, em consonância com o estamento jurídico institucional adequado capaz de assegurar à sociedade um mínimo de condições de convívio tolerante, fraterno e respeitoso.

     Ou seja: a mobilidade social como indicador de progresso e prosperidade de uma população, pelo menos até aqui na história da humanidade, só obteve êxito sob a vigência dessas condições gerais. Em nenhum outro lugar do mundo que tenha adotado diferente sistema político e econômico conseguiu-se dar minimamente condições dignas de vida para o povo, ou a maior parte dele. É verdade que nem mesmo nessas sociedades avançadas, onde a chamada democracia liberal (neoliberalismo, conforme pejorativamente a esquerda raivosa a denomina) dá as cartas, obteve-se a eliminação total da situação de pobreza e miséria de parcela de suas populações. São efeitos marginais que para sua eliminação independem do sistema político e econômico para serem banidos, mas sobre o qual atuam outros fatores, aí incluída a cultura do gosto pelo trabalho, do sacrifício e auto-determinação ausentes na mente de milhões de homens e mulheres.

     O 2º Fórum Social Mundial, se teimar no ranço que persegue a esquerda latino-americana e gaúcha, em particular, e fincar pé em unicamente denunciar as contra-indicações do sistema atual vigente no mundo desenvolvido, sem apontar alternativas práticas que não sejam as execradas experiências socialistas do último século, estará refém de seu próprio engajamento político descompromissado com o real futuro da humanidade. Antes de tudo, convém examinar sem preconceitos as razões pelas quais há, hoje, no mundo, milhões e milhões de incluídos. Quem sabe a partir daí possamos obter uma fórmula mais aprimorada capaz de fazer com que um sistema que consegue inserir milhões possa estender seus benefícios para aqueles que marginalmente ainda não conseguiram chegar lá. E não me parece que a fórmula perseguida esteja nos exemplos exaustivamente lembrados pelas lideranças petistas no RS. Nesses casos não só a pobreza se tornou endêmica, como as liberdades civis e as condições gerais de cidadania foram integralmente submetidas aos caprichos do ditador de plantão.