O bom debate, Rosane de Oliveira

     Os críticos do Fórum Social Mundial por certo encontrarão pencas de motivos para tentar desqualificar um encontro de maioria esquerdista - se é que ainda se pode confiar nas definições de esquerda e direita. Quem deixar a má vontade de lado acabará por concordar que o Fórum é bom para o Estado e para a cidade, não só porque movimenta a economia nesse período de férias, mas muito mais pela oportunidade de se ouvir pessoas da qualidade de alguns conferencistas e debatedores.

     De Porto Alegre não sairá uma receita acabada para o mundo melhor que os participantes consideram possível, mas a discussão é saudável. Os sem-ONG reclamam porque não puderam se credenciar e os adversários do PT criticam o uso de recursos públicos na montagem da infra-estrutura e no pagamento das despesas dos hóspedes oficiais, os liberais atacam a falta de vozes discordantes. O fato é que o Fórum Social Mundial colocou Porto Alegre e o Rio Grande do Sul no mapa múndi. Seria insensatez esperar unanimidade.

     Não é pouca coisa reunir um intelectual como Noam Chomsky, ganhadores de prêmios Nobel, prefeitos de cidades como Roma e Paris e juízes com o currículo de um Baltasar Garzón em meio a cidadãos de todos os cantos do planeta.

     Para que o brilho do Fórum não seja ofuscado por manifestações violentas de grupos radicais, os organizadores e os responsáveis pela segurança terão que redobrar a atenção. No ano passado, o francês José Bové roubou a cena quando comandou a destruição de uma lavoura de soja transgênica, mas neste ano tudo o que os organizadores esperam é moderação. Há coisas mais importantes em pauta do que as ações barulhentas do francês, condenado por comandar a destruição de uma loja do McDonald's em seu país.

     A segunda edição do Fórum será maior e, provavelmente, melhor do que a primeira. O Fórum de Autoridades Locais, que começou ontem à noite, deve terminar amanhã com a apresentação de propostas concretas para o combate à miséria. Até o dia 4, Porto Alegre será uma Babel globalizada.