Porto Alegre prepara-se para receber a segunda edição do Fórum Social Mundial. O tema escolhido, paz, é altamente louvável. Sem dúvida, terrorismo e guerras são atos de insensatez espalhados por todos os continentes. Infelizmente, civis são quase a totalidade das vítimas. Espera-se que nesta segunda edição os participantes do fórum evitem repetir incansavelmente os chavões contra a “globalização neoliberal”, chavões que caíram na vala comum da propaganda ideológica. Relevante é uma discussão que coloque a vida e os direitos da população civil acima dos interesses do Estado. Talvez o fórum discuta o regime totalitário cubano, que condena a uma vida na prisão aqueles que sobrevivem à lavagem cerebral imposta às crianças e ousam desafiar o regime. Quem sabe a delegação cubana não será a mais aplaudida, como na primeira edição, mas a mais vaiada. Afinal, um mundo melhor é possível...

     Um bom começo para o fórum seria evitar a propaganda estatal ufanista. Governo do Estado e prefeitura pretendem gastar algo como R$ 3 milhões na realização do evento. Estimam que os visitantes irão deixar em torno de R$ 23,5 milhões na Capital, principalmente em restaurantes e hotéis, e que o retorno em impostos será próximo de R$ 2,2 milhões. Um retorno sobre o capital investido de dar inveja aos mais renomados fundos internacionais de investimentos. Por que com tamanha oportunidade de lucro os proprietários de hotéis e restaurantes, através de suas entidades representativas, não organizaram o evento? Retorno sobre o capital investido desta magnitude somente poderia ser obtido depois de anos, provavelmente décadas, de trabalho. Da mesma forma que existem alternativas para os recursos utilizados com armas, existe para os recursos públicos. Será que estes mesmos R$ 3 milhões não seriam melhor empregados na criação de postos de saúde, orfanatos e saneamento básico? Falta de água potável e esgotos abertos acarretam doenças e mortes nas crianças carentes. Ou será que isto não existe em nosso Estado?

      A verdade é que estes números apresentados não são realistas e tamanho retorno não existirá. Políticos/burocratas não são anjos, mas pessoas com seus próprios interesses a perseguir. Assim como empresários buscam lucro, consumidores, produtos bons e baratos, políticos e burocratas buscam votos e poder. O Fórum não é uma atividade rentável economicamente para um Estado que enfrenta demandas sociais urgentes, mas um fórum ideológico. De outra forma, afirmar que investir R$ 3 milhões acarretará um retorno de R$ 23,5 milhões é uma forma “original” e tanto de fazer o estudo, razoavelmente complicado do impacto econômico do evento. A não ser que aqui tenha sido descoberta a pedra filosofal e alguns políticos locais conheçam o feitiço da multiplicação dos números. Talvez o Harry Potter deva fazer um estágio em Porto Alegre para complementar seus estudos na Escola de Bruxaria de Hogwarts.