2º Fórum Social Mundial
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT - 06/01/2002

     Porto Alegre prepara-se para sediar pelo segundo ano consecutivo o Fórum Social Mundial, que será realizado de 31 de janeiro a 5 de fevereiro deste ano. Esperam-se para essa segunda edição cerca de 50 mil participantes de mais de 120 países, incluindo 12 mil representantes de movimentos sociais, sindicais, religiosos e de organizações não-governamentais na condição de delegados. Trata-se do primeiro grande encontro da sociedade civil internacional após 11 de setembro de 2001. O governo do Rio Grande do Sul e a prefeitura de Porto Alegre, na condição de anfitriões e apoiadores oficiais, têm enorme responsabilidade política na realização desse evento. A atenção de grande parte da humanidade estará voltada para o que vai acontecer nesses seis dias no Brasil.

     O 1º Fórum Social Mundial foi uma surpresa positiva, inclusive para os seus idealizadores. Criou um espaço novo de reflexão e de articulação. Polarizou com os poderosos de Davos. Concentrou esforços. Disseminou esperança. Mexeu com o mundo. Demonstrou na teoria e na prática que a globalização neoliberal não é o produto inexorável de forças da natureza, mas sim de opções políticas. E que pode ser enfrentada, combatida, derrotada e substituída por uma outra globalização, baseada em valores humanos e não nos interesses do mercado.

     Segundo o comitê de organização do Fórum Social Mundial, formado pelas oito organizações brasileiras que deram origem a esse processo, o evento deste ano será eminentemente propositivo. Ou seja, redes mundiais e continentais de organizações da sociedade civil apresentarão propostas concretas para enfrentar os graves problemas que afligem a grande maioria da população do planeta.

     Deverá ser também um espaço no qual venha a ocorrer uma tomada de posição política sobre a situação atual do mundo. É fundamental que, mais uma vez, o terrorismo seja condenado de forma absoluta. E que, ao mesmo tempo, se defenda uma opção de paz e de justiça social para todos os povos.
O 1º Fórum Social Mundial representou simbolicamente um ponto de ruptura de grande parte da humanidade com o pensamento único neoliberal. O 2º Fórum Social Mundial poderá representar outra ruptura, agora com a nova versão do pensamento único, que quer impor ao mundo uma só opção: ou se está do lado do terrorismo ou do lado da política de guerra do governo Bush. Trata-se, mais uma vez, de falsos caminhos. É possível, sim, condenar o terrorismo e também condenar a guerra.

     Do primeiro evento até hoje, houve um fortalecimento significativo das bases de sustentação desse novo processo. Foi formado em junho do ano passado o conselho internacional do Fórum, que reúne mais de 60 redes mundiais e continentais de organizações da sociedade civil. Em setembro, organizou-se o conselho brasileiro, composto por entidades de todo o país. Comitês de apoio têm surgido em dezenas de cidades brasileiras e também em outros países, dando continuidade a iniciativas que se originaram ainda antes de janeiro de 2001.

     Fóruns preparatórios para o evento de Porto Alegre estão sendo realizados em vários partes do mundo. No início deste ano, ocorreu no Máli o 1º Fórum Continental Africano. Em novembro, já acontecera em Dacar, Senegal, a segunda reunião do conselho internacional, voltada para analisar a conjuntura internacional, amadurecer diretrizes e fortalecer a representação da África.
Além das grandes conferências, o 2º FSM terá centenas de oficinas e dezenas de seminários. Dessa vez, além da PUC e da UFRGS, os eventos tomarão conta de praticamente todos os espaços públicos de Porto Alegre, inclusive estádios. O acampamento internacional da juventude deverá reunir mais de 15 mil participantes de dezenas de países. As atividades culturais, com artistas nacionais e internacionais, ocuparão todas as noites.

     O 2º Fórum Social Mundial tem tudo para consolidar pelo menos três aspectos que são fundamentais para todas as forças progressistas no Brasil e no mundo: ampliar cada vez mais o contingente dos que se contrapõem às políticas neoliberais; politizar e dar maior dimensão às suas lutas; e construir alternativas em nível local e internacional à globalização neoliberal.