Não é uma má
idéia trazerem o Fidel Castro para o 2º Fórum
Social Mundial de Porto Alegre. Como o José Bové
provavelmente estará numa cadeia francesa, Fidel faria
o seu papel, entretendo a imprensa e causando apoplexia na direita,
o que também é divertido, enquanto o Fórum
se ocupa de coisas sérias. Não há perigo
de o Fidel atacar plantações de transgênicos
como o Bové, pois Cuba faz suas próprias experiências
com a biogenética, embora não, que se saiba, sob
tutela da Monsanto, ou liderar manifestações contra
os McDonalds, pois o que ele mais quer na sua ilha é
turista americano, que, como se sabe, não é muito
de "arroz com pollo". Além do Fidel para a
parte festiva, sugiro que se convide o sociólogo brasileiro
Fernando Henrique Cardoso (não confundir com o presidente
do mesmo nome) para a parte conseqüente. Cardoso tem feito
importantes pronunciamentos no Exterior sobre a necessidade
de uma globalização solidária como a defendida
pelo Fórum. Declarou-se favorável à tributação
das operações internacionais do grande capital
especulativo, outra reivindicação do Fórum,
além de fazer críticas mais ou menos veladas ao
modelo econômico neoliberal imposto no seu país
pelo seu xará, muito criticado no Fórum. E não
teve medo nem de chocar setores moderados do PT, sugerindo que
as relações assimétricas da atual economia
mundial também são uma forma de terrorismo. E
isso pouco depois do 11/9!
Outro que poderiam convidar é
o Rubens Ricúpero, minha atual cult-figura, junto com
a Patrícia Poeta. Recomendo a quem não leu o que
Ricúpero escreveu na Folha de S. Paulo do último
domingo, uma genealogia da crise argentina feita com sentimento
e lucidez. "Ainda há quem pense que globalização
e liberalização sejam sinônimos", escreve
Ricúpero, "quando a verdade é que a primeira
só se serve da segunda seletivamente, excluindo-a sempre
que convenha a seus interesses, como se acaba de ver com o fast
track nos Estados Unidos." Depois de ser uma filha mimada
da globalização vitoriana, a Argentina foi expulsa
da divisão internacional do trabalho e obrigada a endividar-se
por não poder exportar os produtos em que era competitiva.
Foi mais uma vítima do que Ricúpero chama de "integração
perversa a uma globalização injusta que perpetua
o subdesenvolvimento e as crises" e que precisa mudar de
forma e qualidade. Rubens Ricúpero, é bom lembrar,
é secretário-geral da Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, com sede em
Genebra, não um perigoso radical de esquerda como eu
e o Cardoso.
|