Palacete Schlemm prestes a retomar a autoestima

Família de descendentes busca recursos para recuperar andares que estão desativados há mais de 20 anos

A ocupação total do térreo do Palacete Schlemm, na esquina da rua Gerônimo Coelho, mascara o vazio dos dois pisos superiores há 20 anos. É mais ou menos neste tempo que o assoalho foi retirado e as paredes desbastadas para um processo de reforma que não pôde ser concluído. Os proprietários chegaram a reunir o dinheiro necessário para recuperar os antigos cômodos superiores, mas só o telhado ficou concluído antes que o Plano Collor, em 1990, limpasse a conta da família.

Prédio fica em frente à praça Nereu Ramos

O desânimo cresceu à medida que os proprietários propunham projetos de restauração que não eram aprovados pelos órgãos de proteção ao patrimônio. A última tentativa de retomar a vida do imóvel foi lançada pela advogada Daniela Fritsche, tataraneta de Jorge Schlemm, o idealizador do palacete. Em 2013, ela procurou a Fundação Cultural e deu início às pesquisas no Arquivo Histórico, onde teve contato com Simone Harger, diretora de uma empresa especializada na elaboração de projetos de restaurações.

A parceria rendeu a aprovação da captação de R$ 100 mil para a elaboração do projeto de restauração pelo Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura de Joinville (Simdec). A análise arquitetônica do patrimônio e o modus operandi para recuperar os 2 mil m² do palacete estão concluídos e já receberam parecer favorável da Fundação Catarinense de Cultura e da Fundação Cultural de Joinville. O próximo passo está nas mãos do Ministério da Cultura (MinC) e do Simdec 2014, fontes financeiras para a execução das obras.

O sonho de Daniela é reabrir todos os espaços do palacete e dar continuidade a vontade do pai, que centralizou a propriedade comprando ações de sobrinhos para que o prédio da família continuasse protegido.

— Temos pinturas à óleo de descendentes e objetos doados por parentes que poderiam integrar um espaço de memória do palacete — observa Daniela.

O imóvel foi construído por Jorge Schlemm, filho de imigrantes que chegaram em Joinville na Barca Emma. Há registros de que Jorge deu entrada na Prefeitura para a construção na rua do Príncipe em 1929, mesma data em que fundou a empresa Jorge Schlemm e Filhos. Os primeiros usos do prédio foram como barbearia, casa de negócios e restaurante, enquanto os pavimentos superiores eram apartamentos.

Imagem do palacete em 1939

A charmosa fachada do palacete tem detalhes de relevos assinados pelo escultor alemão Fritz Alt - na face do prédio que fica para a rua do Príncipe, está a cabeça de Mercúrio, as iniciais JSF e a data de 1930; já para o lado da Gerônimo Coelho, há a representação de Minerva e o brasão da família.

A propriedade permanece na família, que aluga o térreo para lojas e é proprietária do Príncipe Hotel, localizado ao lado do palacete, na rua Gerônimo Coelho, e que no passado chegou a ocupar parte de seus andares superiores.