— Todo aluno precisa desenvolver seu potencial e, muitas vezes, encontra dificuldades. É um trabalho diário, que necessita muita dedicação. O Francisco foi orientado para fazer um trabalho paralelo para melhorar a consciência corporal, principalmente na região do quadril, pois dessa forma ele poderá se desenvolver dentro da metodologia, minimizando possíveis lesões — conta a responsável pelo núcleo de saúde da Escola Bolshoi, Fabiana Machado.

Sabendo disso, o menino demonstra ainda mais a maturidade que as crianças do Bolshoi desenvolvem: ele pratica os exercícios em casa, entre todas as outras atividades do dia a dia.

 

E, mesmo quando as férias de verão chegaram e ele passou dois meses distante da escola, esta responsabilidade não foi esquecida.

— Fui passar as férias na praia com a família de um amigo, mas continuei fazendo os exercícios todos os dias — garante.

 

A dança e a arte sempre estiveram presentes na vida de Francisco Vasques Ferreira: ele já assistira a irmã mais velha, Maria Clara, dançando no Festival de Dança, e a mãe, Cintia, um dia sonhou em viver do canto lírico. Por isso, não foi surpresa quando ele chegou, aos nove anos, e perguntou:

— Mãe, eu quero ser bailarino. Você tem preconceito?

Cintia, que atua como coordenadora do programa de educação continuada do Hospital Dona Helena, não só não viu problema algum como buscou uma escola de dança, que Francisco aliou às aulas de futebol e capoeira. Mas o Bolshoi estava nos planos do menino e, com a decisão tomada, ele buscou a pré-indicação, feita pelos professores das escolas municipais de Joinville, já na quarta série. Levaria ainda dois anos até ganhar a oportunidade de tentar uma vaga na seletiva, que foi acompanhada por expectativas e receios na família.

— Cada vez que a gente ia para mais uma etapa, era uma tensão grande. Eu dizia: “se não der, meu filho, não fique decepcionado. De todos que fazem a seleção, apenas 20 meninos e 20 meninas são escolhidos” — recorda Cintia.

Com o nome de Francisco aparecendo em todas as listas durante o período de seleção, era a hora de readaptar a rotina da família. Acordar cedo, passar todas as manhãs em atividades no Bolshoi, ir à escola regular à tarde e ainda não perder a infância em meio a tudo isso.

— O balé é sempre muito difícil, precisa ter muita dedicação. Mas parece que me ajudou muito com as notas na escola, porque eu fiquei mais atento, tenho mais vontade de fazer as coisas — avalia o menino.

A mãe concorda com a avaliação. Além dos exercícios e da disciplina praticados nestes meses, Francisco desenvolveu o lado social ao conviver com crianças de diferentes culturas e realidades sociais. Com tudo fluindo tão bem, Francisco tem como único obstáculo uma luta consigo mesmo: a rotação do quadril, articulação intensamente exigida no balé e em especial no método Vaganova, que requer grande amplitude de movimento articular e um elevado grau de força da musculatura e de controle do movimento. Os rigores do treinamento — que justificam a seletiva específica e complexa que a escola pratica, em busca de crianças que tenham o biotipo ideal para não se lesionarem — fazem com que Francisco precise se preparar ainda mais para acompanhar a turma.