| 01/09/2005 09h58min
Quando sentar no banco das testemunhas da CPI dos Bingos, às 11h30min de hoje, o oftalmologista João Francisco Daniel vai tentar convencer o Brasil de que um complô político matou seu irmão, o prefeito de Santo André Celso Daniel (PT).
João Francisco e seu irmão Bruno - ainda filiado ao PT, apesar de acreditar no envolvimento de correligionários na morte de Daniel - juntaram um dossiê para provar a tese. Além disso, estão amparados em seis indícios armazenados desde 2002 pelos promotores Amaro Thomé e Roberto Wider Filho, de Santo André. A crença é de que o crime foi motivado por desavenças na partilha de um suposto caixa 2 montado na prefeitura. A versão da polícia, até o início deste mês, era de que o crime tinha sido um seqüestro aleatório.
Três dos indícios que os promotores pretendem apresentar ao júri são periciais. Outros três estão baseados em testemunhos. O primeiro é o amigo que jantava com Daniel na noite do seqüestro, Sérgio Gomes, o Sombra. Os promotores denunciaram Sombra como autor. Daniel teria descoberto que ele e um grupo de petistas em cargos de chefia na prefeitura estavam desviando dinheiro do caixa 2 abastecido com propinas arrecadadas junto a empresários de ônibus.
Contra Sombra existem provas materiais - depósitos de suborno em suas contas bancárias. E também testemunhos, como um que viu Sombra fumando um cigarro ao lado do carro e do corpo desfalecido de Daniel, na noite do seqüestro - enquanto o suspeito insiste que tentou ajudar o amigo.
Sombra declarou que a caminhonete Pajero em que ele e Daniel estavam entrou em pane e parou depois de ser alvejada por bandidos. Laudos periciais indicam que a caminhonete já estava parada quando recebeu os tiros e que não existiu a pane - a parada foi voluntária.
Após colidir contra um dos carros dos bandidos, Sombra diz que o sistema de travas elétricas do veículo falhou, destrancando a porta. Perícias provaram que as portas foram destravadas de forma voluntária por dentro veículo.
Perícias demonstraram que, antes de morrer, Daniel foi atingido por tiros de "esculacho". São disparos não-mortais, dados de raspão, para amedrontar. O prefeito usava uma cueca virada do avesso, tratamento dispensado a traidores no submundo. O Ministério Público (MP) acredita que a vítima de um seqüestro comum não seria submetida a esse tipo de tortura e humilhação, a menos que fosse conhecida dos criminosos.
A polícia prendeu uma quadrilha suspeita de assassinar Daniel durante um seqüestro comum. No dia 12 de agosto, um dos bandidos presos resolveu falar. Acusou Sombra de encomendar o crime, para que Daniel repassasse documentos comprometedores contra o grupo que desviava o dinheiro de caixa 2.
– Nós não iremos segurar tudo para você – ameaça o bandido, em carta que está em poder do MP.
O advogado de Sombra contesta a versão e diz que seu cliente está sendo chantageado.
HUMBERTO TREZZI/ZERO HORAGrupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.