| 05/03/2004 20h54min
Em meio à tentativa do governo de mostrar iniciativas positivas para abafar a crise política, o PT sugeriu nesta sexta, dia 5, mudanças na política econômica que resultem em um crescimento sustentável. Ao mesmo tempo, o presidente do partido, José Genoino, fez questão de expressar apoio à equipe econômica.
A direção do partido, juntamente com prefeitos das capitais e presidentes de diretórios regionais, ficou reunida por cerca de cinco horas em São Paulo para discutir o caso do ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz e suas implicações nas eleições municipais. Ao final do encontro, divulgou um documento que trata da ética e da necessidade do crescimento econômico e afirma que o caso é fruto de uma orquestração de setores da oposição e da mídia.
– Vamos trabalhar com afinco para que o governo implemente as medidas necessárias para que 2004 marque o início de um novo e sustentado ciclo de desenvolvimento econômico e social do país, através de mudanças na política econômica necessárias à implantação e consolidação de todos os nossos programas sociais, econômicos, administrativos e de desenvolvimento – diz o PT no documento.
Genoino, no entanto, amenizou o tom:
– Mudança para nós significa ousadia, mais iniciativa e diversificação da agenda para o crescimento – disse aos jornalistas ao final do encontro. Ele admitiu que na macroeconomia é fundamental não haver "sustos nem abalos'', daí a necessidade de manutenção do ajuste fiscal e seu apoio à equipe liderada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
Já o líder do PT na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (SP), foi mais claro:
– Ninguém na reunião defendeu a política econômica – disse.
Ele ponderou, no entanto, que uma crise que já dura 20 anos não poderia ser solucionada em um ano e dois meses de governo petista.
– O PT apóia, mas vai botar pressão no governo – insistiu Chinaglia.
Um dos
principais mentores da atual política econômica, o Fundo Monetário Internacional (FMI)
recebeu crítica dura do governador do Acre, Jorge Viana. Para ele, o FMI está ultrapassado.
– Neste momento cabe uma discussão de como o PT pode fazer para forçar a modernização de organismos que estão, para mim, com validade vencida, como o FMI. O mundo é outro, ou eles mudam ou perdem definitivamente a validade – afirmou, mencionado as conversas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tido com o Fundo e líderes de vários países para flexibilizar algumas regras da instituição.
O encontro foi dominado, no entanto, pela discussão dos efeitos sobre o partido do episódio envolvendo o caso Waldomiro Diniz, que foi subordinado ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Waldomiro foi flagrado em fita de vídeo pedindo dinheiro a um empresário do jogo para si e para a campanha de candidatos a governos estaduais em 2002.
Mas integrantes do partido admitiram que o PT está sofrendo desgaste com o episódio e todos afastaram a necessidade de uma CPI,
com o argumento de que o governo
demitiu o assessor e mandou investigar o caso.
– É melhor sair desgastado, mas com o país andando, retomando as votações – disse Ideli Salvati (SC), líder do PT no Senado.
Jorge Viana falou das lições para o partido, lembrando que é necessário maior cautela e vigilância na escolha de assessores. Genoino, assim como o documento resultante do encontro, fez uma defesa vigorosa do "sólido patrimônio ético" construído desde a fundação do PT, há 24 anos. Na tentativa de resgatar a principal característica do PT, o documento de duas páginas menciona por seis vezes a palavra "ética.''
O presidente do PT ressaltou ainda que a oposição está aproveitando o caso para antecipar a campanha eleitoral.
– Nós somos governo e defendemos o governo e queremos ganhar a eleição. E a oposição tenta desgastar o governo e atacar o PT. É esse jogo político que está em curso. O que a oposição quer não é investigar, quer fazer uma batalha política –
disse.
Com informações da agência Reuters.
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