| 15/10/2009 14h30min
Não ficou bem para o técnico Paulo Autuori o desabafo exagerado diante das críticas. Ficou parecendo que o Grêmio, a torcida, o time, o projeto de longo prazo, tudo isso é menos importante do que o seu método de trabalho. Confesso que me decepcionei um bocado.
Aquelas frases "se não gosta, é só me tirar" e "não faço média com a torcida" transmitiram um sentimento ruim, como se a parte pessoal estivesse acima da coletividade gremista inteira. Ninguém cogitou a sua demissão. Muito menos pediu que concordasse com a torcida para acalmá-la. A ideia era ouvi-lo argumentar sobre as críticas, as primeiras críticas mais fortes.
Poucos treinadores receberam tantos elogios no Rio Grande do Sul quanto ele no passado recente. Para ser mais exato, nenhum.
Se fosse outro técnico que
estivesse em vias de encerrar um campeonato de 38 rodadas com 15% de
aproveitamento fora de casa, o coitado estaria recebendo chibatadas no pelourinho.
Celso Roth ouviu críticas muito piores, várias delas ultrapassando os limites da civilidade, e nunca passou a ideia de que as considerava tão insignificantes ao ponto de sequer contestá-las.
Deve ter sido um momento infeliz. Autuori também não é obrigado a dar aulas de futebol e de tolerância todos os dias. O que preocupa não é tanto o que ele disse, mas o fato de supor que pode dizer tudo o que disse sem que nada lhe aconteça.
Os dirigentes do Grêmio não transmitem indignação diante do resultado ruim. Sempre remetem para o planejamento de 2010. É como se fosse um sacrilégio criticar Autuori, pelo currículo com fartura de títulos e o respeito profissional que tem.
Nelson Rodrigues nos ensinou que toda a unanimidade é burra. A inanição do Grêmio fora de casa retirou-lhe esta condição. Mas no Olímpico
ele ainda é incontestável.
Na direção ninguém
opõe nada ao seu trabalho. Este é o perigo. Apoiar não significa aceitar tudo. Se colocar numa condição acima do bem e do mal — e foi este o espírito que restou desta entrevista de Autuori, ao menos — é sempre uma porta aberta para desvios autoritários. É difícil de acontecer com um homem como Autuori, já que sua trajetória aponta o inverso disso, mas nunca se sabe.
A crítica é sempre salutar, mesmo quando parte dela emerge da paixão muitas vezes irracional do torcedor. Conviver com ela significa discuti-la de algum modo, e não encerrar o assunto com ameaças de deixar o cargo.
Desta vez, ao contrário de tantas outras vezes ao microfone, Autuori foi como o Grêmio fora de casa: perdeu pontos.
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