| 27/05/2009 02h41min
Desde o dia em que se apresentou ao Grêmio, o técnico Paulo Autuori repete uma rotina pouco antes de começar cada manhã de trabalho no Olímpico: estende a mão e cumprimenta todos os jogadores do grupo, um a um. Gesto aparentemente inexpressivo, mas que desenhou um sorriso de satisfação no rosto do atacante Jonas quando ele o relatou, ontem, no saguão do belo Hotel Tamanaco, onde a delegação do clube está instalada, em Caracas, na região central da cidade.
É acalentado por atitudes como essa do seu novo treinador que o time gaúcho enfrenta o Caracas hoje à noite, no Estádio Olímpico da Venezuela. A disputa tem tudo para ser a mais dura da equipe na Libertadores de 2009, mas, ainda assim, o Grêmio parece estar em paz. A civilidade de Autuori encanta e surpreende os jogadores.
– Ele não fica esperneando e gritando na área técnica durante o jogo – admirou-se o zagueiro Rafael Marques. – Isso é bom porque, às vezes, o técnico que fala demais confunde a
gente. Você quer fazer uma
coisa, ele diz outra, e você fica em dúvida. Se erra, vem a cobrança.
– E na maioria das vezes a gente nem escuta o que eles gritam – acrescentou Jonas.
– O que o Autuori fala sempre é sobre o detalhe. Isso do detalhe é muito importante para ele – revelou o gerente de futebol Mauro Galvão.
Jonas e Rafael Marques explicaram o que vem a ser “detalhe” na concepção de Autuori.
Jonas:
– Mais do que um chute ou um drible, às vezes uma corrida de 30 metros é que faz a diferença. Ninguém vai morrer por dar um pique de 30 metros para ajudar um companheiro. Parece pouco, mas é importante.
Rafael:
– É a atitude que você tem durante toda a semana. Você trabalha bem, então será escalado para o jogo.
Autuori quer que o jogador atue com espontaneidade e tome suas próprias decisões, mas sempre baseado no trabalho feito logo depois dos cumprimentos matinais: no
treinamento.
Ontem mesmo ele voltou a insistir que costuma cobrar as atitudes dos jogadores com dureza
para não precisar ficar se escabelando nos jogos.
– É bom para mim e para eles – explicou. – Quero desenvolver as consciências, quero plantar raízes que sejam profundas e importantes não só para mim, mas para o futuro do jogador.
Talvez entusiasmado com o discurso do técnico, um repórter estendeu-lhe o microfone e perguntou:
– É assim que se conquista um elenco?
– Não sei – Autuori balançou a cabeça. – É assim que aprendi a viver.
Veja como jogo o Caracas:
ZERO HORA
O estilo civilizado de Paulo Autuori conquista os jogadores no dia a dia e volta à competição que ajudou a consagrar o técnico
Foto:
Nilo Jimenez, divulgação
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