| 17/03/2005 20h54min
O Congresso da Bolívia rejeitou nesta quinta, dia 17, a proposta de antecipação das eleições presidenciais feita pelo atual ocupante do cargo, Carlos Mesa, cujo futuro agora é incerto. Mesa queria que as eleições fossem antecipadas de 2007 para agosto deste ano. Ele argumentava que não tinha mais como governar em meio às manifestações e bloqueios rodoviários.
O presidente não disse se renunciaria caso o Congresso rejeitasse sua proposta. Mas, pouco antes da votação parlamentar, cujo resultado já era amplamente esperado, uma fonte de primeiro escalão ligada a Mesa disse à Reuters que o presidente "se inclina por ficar".
A tropa de choque protegeu o Congresso durante a longa sessão conjunta da Câmara e do Senado. Em um clima tenso, os parlamentares vaiaram e aplaudiram sonoramente os oradores.
– O pedido do presidente é declarado inaceitável, pois carece de qualquer base legal e viola a Constituição – diz a resolução aprovada pelo Congresso.
O clima no país é mais calmo desde terça, quando os manifestantes abandoaram os bloqueios rodoviários que provocaram escassez de alimentos em grandes cidades e custaram milhões de dólares às empresas.
Mas tréguas similares ocorridas no passado na Bolívia se mostraram curtas. Os manifestantes criticam o projeto de Mesa para atrair mais investimentos estrangeiros ao setor do gás natural, que é a maior riqueza do país. A isso se somou um forte sentimento antiamericano e o preconceito sofrido pela maioria indígena do país.
Mesa havia ameaçado renunciar na semana passada, mas recuou ao receber apoio do Congresso. Se ele de fato deixar o cargo, o governo boliviano pode mudar de mãos várias vezes em poucas horas.
O primeiro na linha de sucessão é o presidente do Senado, Hormando Vaca Diez. Caso ele não aceite o cargo, a presidência seria então entregue sucessivamente ao presidente da Câmara e ao presidente da Suprema Corte, segundo juristas.
Muitos parlamentares temem que esse vácuo de poder torne o caos no país ainda pior.
– Seria uma bagunça. Quando tempo Vaca Diez duraria caso se tornasse presidente? – questionou o deputado Ernesto Suárez em seu discurso.
– Nem uma hora!– gritou o também deputado Evo Morales, importante líder dos indígenas.
– Vocês vêem? – reagiu Suárez. – Estamos pedindo o caos.
Alguns analistas políticos dizem que Mesa pode preferir ficar, já que os protestos arrefeceram, mas a maioria da população parece apostar na renúncia.
– Ele vai sair, sem dúvida – disse a estudante Carla Rey, em um cibercafé. – Ele é um bom homem, mas já agüentou o suficiente.
O presidente, que tem popularidade elevada, mas pouco apoio no Congresso, disse na terça que não quer mais governar com os parlamentares "atando minhas mãos a cada movimento".
Historiador conhecido por sua atuação como apresentador de TV, Mesa se tornou presidente com a renúncia de Gonzalo Sánchez de Lozada, de quem era vice, em 2003. Sánchez fugiu do país por causa de uma revolta indígena semelhante à atual.
As informações são da agência Reuters.
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