| 28/01/2005 08h33min
Intelectuais de vários países se reuniram nesta quinta, dia 27, para defender no Fórum Social Mundial mudanças urgentes nos organismos mundiais como forma de garantir uma maior representatividade internacional. Debatedores como os Prêmio Nobel José Saramago e Adolfo Perez Esquivel e o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, ressaltaram que a democracia alcançada na esfera nacional não chega ao cenário internacional.
– Temos democracia em escala nacional, e em escala supranacional temos uma plutocracia e agora um poder hegemônico – disse Federico Mayor, ex-diretor da Unesco e atual presidente da Fundação de Cultura e Paz, referindo-se ao domínio do poder econômico nas relações internacionais assim como ao papel preponderante dos Estados Unidos.
– Da mesma forma que queremos nossos países como Estados de direito, respeitosos da liberdade dos direitos humanos, queremos um mundo que seja subordinado ao império do direito e não ao direito do império – reforçou Garcia para uma platéia de brasileiros e estrangeiros que se aglomeraram em uma das tendas do Fórum.
Um dos tópicos recorrentes na discussão desse tema, a reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) foi defendida por Esquivel.
– Queremos reformá-la e democratizá-la em suas estruturas.
Saramago, por sua vez, chegou a questionar a eficácia da abertura das organizações mundiais como forma de garantir o direito dos cidadãos. Para ele, o problema é que o sistema político democrático é dirigido por um sistema não democrático constituído por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial, entre outros.
– O poder do cidadão tem limite. Só chegamos até o teto de votar, constituir um governo, mas há uma outra esfera acima (dos governos nacionais) sobre a qual não temos nenhuma influência. O cidadão deixou de existir. Somos agora consumidores ou desempregados – disse o escritor português.
Para Garcia, a imposição de um receituário econômico pré-estabelecido pode colocar em xeque a própria validade do processo democrático de escolha dos governantes.
– Para quê eleições se os governantes vão ter que seguir rigorosamente determinadas posições numa suposta lógica econômica ? – questionou Garcia.
Ao citar a Argentina como exemplo, o assessor de Lula e professor da Unicamp disse que a "destruição de economias nacionais através de políticas impostas por organismos internacionais em nome de critérios pseudo-científicos" são formas "sinuosas e silenciosas de genocídio". Apesar de manifestar opiniões concordantes com o eixo das discussões no FSM, Garcia não foi poupado do enfrentamento sobre as políticas do governo Lula.
– O professor da Unicamp foi brilhante, eu gostaria que o assessor se pronunciasse – pediu um participante do debate ao perguntar por que o governo brasileiro estaria se afastando paulatinamente do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e por que não estaria dado apoio à Argentina na questão da moratória da dívida e nas negociações com o FMI.
– Antes de fazer guerra ideológica, informe-se primeiro – disse Garcia, que rejeitou veementemente a colocação.
O governo Lula tem sido alvo no FSM de críticas e protestos por militantes sociais que consideram que o presidente abandonou a luta social e está governando para elite.
As informações são da agência Reuters.
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