| 20/01/2005 14h35min
Surgido no seio dos movimentos sociais brasileiros articulados com personalidades e entidades internacionais, o Fórum Social Mundial escolheu Porto Alegre para ser sua sede em 2001 pelo fato de a cidade ser considerada, naquele momento, a mais esquerdista do país – havia 12 anos, era governada pelo PT, partido que recentemente havia conquistado também o governo do Estado. Em cinco anos, no entanto, as coisas mudaram, e o Espírito de Porto Alegre talvez passe a habitar Belo Horizonte ou Recife.
Já na edição de 2003, com a derrota do candidato do PT, Tarso Genro, para Germano Rigotto, do PMDB, a organização do evento enfrentou dificuldades. As administrações municipal e estadual eram responsáveis por aportes financeiros e de infra-estrutura essenciais para a execução do FSM. Apesar de a carta de princípios do Fórum definir o encontro como um espaço "não-governamental e não-partidário", a saída do PT do governo teve seu impacto.
Na terceira edição, o governo do Estado e a administração municipal desembolsaram US$ 600 mil para o evento, fora custos indiretos com passagem e hospedagem de convidados e conferencistas. Outros US$ 400 mil vieram da Petrobras e do Banco do Brasil – forma encontrada pelo recém eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva de garantir a realização do evento. O Orçamento Estadual entregue por Olívio previa um investimento de R$ 2,7 milhões no FSM, mas logo após ser eleito, Rigotto anunciou que o valor era muito alto e seria reduzido para no máximo R$ 1,5 milhão.
Mesmo com o evento tendo surgido no bojo de uma situação político-partidária favorável, as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que compõem o Fórum temiam o uso político do encontro pelo PT. Durante o governo Olívio Dutra, a própria organização era centralizada pelo gabinete do vice-governador Miguel Rossetto e acabou transformando-se em instrumento de política externa do Palácio Piratini.
A preocupação reforçou a polêmica sobre a continuidade do encontro em Porto Alegre, somado ao fato de que o Comitê Internacional desejava estimular a participação de outras regiões do planeta no movimento – os custos da viagem, especialmente, fariam com que a participação de países africanos e asiáticos seja baixa. Foi por isso que a quarta edição do FSM aconteceu em Mumbai, na Índia. A decisão, no final do FSM 2003, era de que o encontro fosse um ano em Porto Alegre, um ano fora do Brasil.
Mesmo com as adversidades – os 190 grupos indianos responsáveis pela realização não receberam ajuda nem recursos financeiros da administração municipal de Mumbai, considerada políticamente de direita – o FSM 2004 contrariou as previsões mais pessimistas. Menos acadêmico e com uma participação popular mais intensa, a impressão final foi de que Porto Alegre teria de aprender a "incluir os excluídos". Até mesmo os dalits, a casta mais pobre e excluída, chamada de intocáveis (na índia as castas são rígidas e em muitos casos não se pode sequer tocar em membros de castas diferentes), participou do comitê organizador local.
Depois da última eleição municipal, que terminou com 16 anos de PT na administração municipal, a discussão sobre a cidade do Fórum ganhou novas cores. O coordenador executivo do FSM, Jeferson Miola, chegou a dizer que as próximas edições do evento poderiam deixar Porto Alegre já em 2005. Mesmo com a promessa do prefeito eleito José Fogaça (PPS) de manter o apoio da municipalidade à realização do evento, um certo temor de que o espírito do Fórum fosse descaracterizado pela posição ideológica escolhida pela população de Porto Alegre percorreu a cidade em novembro. Os prefeitos eleitos de Recife (PE), João Paulo Lima e Silva e de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ambos do PT, ofereceram suas cidades para receber o encontro.
No fim, o FSM 2005 foi mantido em Porto Alegre, até porque seu deslocamento a dois meses do encontro traria prejuízos. Mesmo assim, o destino do próximo encontro do movimento é incerto. A discussão, aliás, é pauta do Conselho Internacional do FSM desde a primeira edição. A avaliação do local de realização dos encontros e a própria periodicidade deles estão sempre em debate. De todo modo, a decisão sobre 2006 só será conhecida no dia 25 de janeiro, quando termina o encontro do Conselho Internacional.
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