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 | 12/02/2008 20h38min

Alegrias e torturas marcaram terça-feira no Festival de Berlim

Happy-Go-Lucky refresca evento com elogios à felicidade

O britânico Mike Leigh refrescou nesta terça-feira o Festival de Cinema de Berlim com Happy-Go-Lucky, um elogio à felicidade.

— O mundo não é maravilhoso, por isso é importante responder com otimismo ao negativismo da vida — afirmou Leigh sobre o mundo que retrata em sua comédia, construída sobre a história de uma jovem de Londres empenhada em ser feliz mesmo depois de sua bicicleta ter sido roubada.

Poppy, interpretada por Sally Hawkins, é o nome dessa moça imune à amargura. O outro lado da moeda é Scott, encarnado por Eddie Marsan, um professor de auto-escola torturado e "torturante". Do encontro de ambos surge um filme com cenas magistrais, como uma aula de flamenco, na qual a professora mostra para seus alunos o segredo da dança como arma para marcar território, na vida e no amor. Leigh deslumbrou o Festival de Berlim com um filme que deixa de lado seu estilo mais social ou dramático, como em Segredos e Mentiras (1996) e Vera Drake (2004).

O mundo vivamente colorido de Poppy arrancou risos e ovações, num dia também marcado pela exibição do filme S.O.P.: Standard Operating Procedure, de Errol Morris, o primeiro documentário a participar da mostra competitiva do evento em toda a sua história.

O documentário

Meticuloso, ele disseca em S.O.P. as fotografias que sacudiram o mundo em 2003, nas quais soldados americanos foram mostrados humilhando e torturando presos iraquianos e posando sorridentes junto aos corpos dos detentos. O diretor teve à sua disposição um material valioso: os testemunhos de protagonistas das fotos, como a soldado Lynndie England — presente na famosa imagem com um preso amarrado como um cachorro — e sua colega Sabrina Harman, que sorria junto a um detento que havia sido torturado até a morte.

Em frente às câmeras, as duas contam detalhes de como e por que essas fotografias foram tiradas. Lynndie relata sua experiência num exército em que as mulheres não podem demonstrar fraquezas e explica que se deixou aparecer nas fotos para impressionar seu namorado, o militar Charles Graner, que também aparece em algumas imagens. Morris coloca o ocorrido em Abu Ghraib como parte de um "Standard Operating Procedure" — ou seja, um procedimento habitual com presos iraquianos —, no qual o ato de deixar os detentos nus e fazê-los posar diante de militares mulheres era uma forma de humilhação sexual.

Coreano completa o dia

A exibição de Night and Day, do coreano Hong Sangsoo, completou o dia. Como normalmente ocorre com os filmes asiáticos, a produção foi escalada para a nada atraente sessão das 9h e, além disso, seus 145 minutos não motivaram quase ninguém a acordar cedo. Os que levantaram para assistir ao filme encontraram um filme um tanto quanto vazio, mas agradável, sobre o diário de um coreano foragido em Paris por um problema policial.

O homem alterna as conversas noturnas com sua esposa, em Seul, com longos passeios com uma bolsa de plástico por um mundo que não lhe pertence, no qual nem chega perto dos franceses e onde seu único reduto são os compatriotas. Passam por ele uma sucessão de mulheres, todas coreanas, idênticas e mentirosas, até que uma dessas mentiras o faz voltar para Seul.

EFE
 

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