| 12/02/2008 19h50min
O diretor do filme Tropa de Elite, José Padilha, disse nesta terça-feira que as mais de 11 milhões de pessoas que assistiram a uma cópia pirata do longa antes da estréia oficial nos cinemas fizeram isso "por vingança contra a polícia".
— Existe um grande ressentimento no Brasil em relação à polícia, que extorque, tortura, aceita suborno e mata com impunidade — disse Padilha, cujo filme concorre ao Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim.
O cineasta se mostrou surpreso com o fenômeno que o filme se tornou no Brasil e brincou, dizendo que "se você quer que alguém fique com muita vontade de ver alguma coisa, basta proibi-la".
Outro motivo para o sucesso, segundo Padilha, poderia ser o fato de que até agora "nenhum longa-metragem tinha falado da guerra das favelas do lado de dentro da corporação".
Tropa de Elite ainda continua sendo alvo de um complexo processo judicial, denunciado pela
Polícia Militar do Rio de Janeiro, corporação da qual, segundo o
diretor, "dois terços ou 30 mil agentes são corruptos".
Segundo Padilha, a pior situação é a dos membros do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM, cuja corrupção é "muito mais grave, já que torturam e matam, mas não aceitam dinheiro dos traficantes".
Padilha se defendeu das pessoas que o acusam de justificar a brutalidade dos comandos especiais ao buscar a identificação do espectador com essas tropas e afirmou que sua corrupção "não é econômica, mas afeta os valores humanos mais elementares".
O diretor destacou que a novidade do filme não está unicamente na retratação dos superpoliciais, cujos calcanhares são acompanhados pelas câmeras, mas sim na "demonstração de que não é uma guerra exclusiva" entre agentes e traficantes de drogas.
— Mostra também parte da culpa das classes média e alta, que consomem maconha e cocaína, financiando assim a guerra, mas que contam com dinheiro suficiente para subornar quem quer
que seja para não serem presos — afirmou.
Antes de Tropa de Elite, Padilha já retratou a visão dos meninos de rua no documentário Ônibus 174. Ele garante que seu próximo projeto abordará o conflito das favelas da perspectiva do governo, o qual seria o "gerador de toda a espiral de violência, que não tem caráter político".
José Padilha esteve na exibição oficial de Tropa de Elite no Festival de Berlim
Foto:
Joerg Carstensen, EFE
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