| 19/08/2007 18h16min
Centenas de famílias da cidade de Pisco dormem sobre os escombros de suas casas para proteger dos saques o que resta de seus bens. Muitas delas mandam crianças, mulheres e idosos aguardarem em acampamentos improvisados em parques e praças a chegada de ajuda humanitária após o terremoto da última quarta.
A tarefa de remover os escombros e resgatar os corpos apenas começou na cidade, onde 90% das construções foram destruídas com o tremor. Os bombeiros trabalham intensamente na Plaza de Armas, onde se concentram a maioria dos hotéis e o centro comercial. Nas residências dos arredores ainda se estima haver corpos soterrados.
A distribuição da ajuda humanitária – que chega aos aeroportos de Pisco e Lima – é caótica. Muitos dos habitantes de Pisco optaram por improvisar seus próprios acampamentos em parques, praças e na periferia da cidade, onde se multiplicam os grupos de pessoas que levantam tendas com paus e lençóis e organizam refeições comunitárias com as doações recebidas.
No estádio do Clube Atlético de Pisco, permanecem cerca de 300 pessoas que fugiram da costa, onde o mar avançou mais de 200 metros terra adentro. As autoridades chegaram a emitir um alerta de tsunami, depois cancelado. Convivem ali as primeiras famílias que se instalaram depois da catástrofe, às quais se somaram as que foram chegando nas últimas horas. É uma paisagem em que o desespero pela escassez de água e comida e as dificuldades na distribuição oficial de ajuda geram conflitos.
Clima ficou tenso no estádio
No sábado, um grupo de mulheres reclamava na porta do acampamento que os pacotes de alimentos só chegavam a alguns setores e deixavam de fora parte da população, como as famílias que pernoitavam sobre os escombros.
– A ajuda chega por setores: aos que estão no fundo, dão alimentos todos os dias e a nós, nada. Não é justo – afirmou Evelin Herencia Ramírez, uma das manifestantes.
O clima se tornou tenso no estádio. As mulheres se transferiram para "o fundo", onde estão alojadas várias famílias, e exigiram comida. Saúl Ascasiete Reis, superviros do abrigo, explicou que as rações tem que durar 15 dias e são para as famílias que estão ali "desde a primeira hora", com os nomes anotados em uma lista.
Os homens do exército peruano e da polícia nacional, distribuídos em toda a cidade, inclusive nos acampamentos, olhavam de longe a cena. A poucos metros, um grupo de militares norte-americanos instalava uma barraca sanitária, e uma mulher perguntava, desesperada, onde poderia passar a noite.
A fome começa a desbancar todos os problemas e, nos últimos dias, é a preocupação principal dos que sobreviveram ao tremor.
Pessoas resgatam o que podem dos escombros
Depois das 17h, quando o sol baixa, os trabalhos das equipes de resgate se intensificam. Homens da Defesa Civil, militares, bombeiros e a polícia nacional revisam o que resta das construções e instalações elétricas, antes de autorizar a entrada das máquinas que levantam os escombros mais pesados.
Ao mesmo tempo em que trabalham, as pessoas resgatam o que podem: um brinquedo, uma geladeira que já não funciona, o pedaço de um móvel, um colchão são carregados em carros puxados à mão ou enganchados a uma bicicleta. Tudo é levado aonde quer que se vá passar a noite.
As cifras oficiais não estão sendo atualizadas. Segundo o último informe das Nações Unidas que circula, ao menos desde sexta-feira, as famílias afetadas são cerca de 17 mil.
AGÊNCIA BRASIL
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Foto:
Martin Mejia
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AP
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