| 02/10/2006 16h38min
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que ficou com 2,64% dos votos válidos na eleição presidencial, avalia com cautela o potencial de transferência dos mais de 2,5 milhões de eleitores conquistados para um dos dois candidatos que seu partido venha a apoiar no segundo turno. Cristovam observou que os votos dos eleitores do partido sempre convergiam, quase que na totalidade, para nomes e siglas indicados por Leonel Brizola, quando o PDT ainda estava sob o comando do gaúcho. Ressalvou, porém, que essa será a primeira eleição presidencial sem o envolvimento do histórico líder, falecido em 2002, o que representa um desafio novo para o partido.
– Sou muito sincero, pois essa será a primeira vez que o partido decidirá sem a força do Brizola – disse ele, ao justificar a dificuldade de um prognóstico sobre a adesão dos eleitores do partido ao nome a ser indicado.
O senador reafirmou mais uma vez que o apoio a Lula ou a Alckmin, no segundo turno, não será fruto de decisão pessoal sua, mas uma definição partidária. Cristovam também avaliou de forma positiva sua participação na disputa presidencial. Primeiro, como observou, por ter contribuído para a arregimentação de votos para fortalecer a sigla, favorecendo a superação da cláusula de barreira, com 5,35% dos votos em todo o país.
Cristovam disse que chega ao fim do primeiro turno sem nenhuma frustração, porque cumpriu seu papel de levar a palavra "revolução" para o dia-a-dia dos brasileiros.
– Uma revolução com lápis, no lugar de fuzis; com escolas, no lugar de trincheiras; uma guerra com professores, em vez de guerrilheiros – esclareceu.
Mas reconheceu que lhe faltou carisma para obter um desempenho melhor.
– Chego ao final sem nenhuma frustração. Eu entendo perfeitamente porque a grande maioria não optou pela nossa candidatura. É uma proposta subversiva. Hoje, a mentalide que predomina no país é a que põe o caminho do país nas mãos da economia, eu coloco nas mãos da educação. Faltou a mim o carisma de JK e outros líderes, mas isso não me inibe. Eu cumpri o meu papel. Eu trouxe a palavra revolução, que estava perdida, para o dia-a-dia. Não uma revolução azeda, mas uma revolução doce. A revolução pode se dar pela educação – disse.
Cristovam disse que foi uma honra defender a bandeira da educação e que está muito grato pelos 2,5 milhões de votos que recebeu. Disse que esses votos não foram nele, mas numa causa, e conclamou seus eleitores a pressionar o futuro presidente para garantir os investimentos em educação. O pedetista disse que é preciso vencer o muro do atraso com a educação e que "a porta de entrada no mundo moderno não vem do emprego na fábrica, mas da banca de uma escola".
– Vou me dirigir aos 2,5 milhões que votaram no 12. A partir de hoje, a campanha tem que se transformar num movimento pela educação. Vamos fazer um movimento educacionista. Eu gostaria de ter chegado a um número maior de votos. Peço desculpas aos que investiram em mim, mas quero pedir que os eleitores cobrem isso dos outros dois candidatos. Eu tentei, pode dizer que não tive muitos votos, mas ninguém pode dizer que não tentei – disse.
Cristovam disse que o segundo turno é importante porque o eleitor ainda estava em dúvida entre os dois principais candidatos. O pedetista disse que "não se pode casar sem conhecer melhor o companheiro", e que o povo deu o recado de que precisava de mais tempo. Segundo ele, no segundo turno os partidos vão ter que se diferenciar e previu que "a coisa vai pegar fogo".
– Uma eleição é feita em dois turnos para que, no primeiro, a gente escolha mais pela afinidade, e no segundo, o menos ruim – disse.
Ele aproveitou para dar um recado a seu partido:
– Para mim, o recado foi que, se o PDT quiser levar a bandeira da educação em 2010, tem que começar mais cedo - disse.
Eleito senador pelo PT, Cristovam integrou a equipe do atual governo como ministro da Educação. Deixou o cargo depois de longo embate com a área econômica por mais verbas para a pasta. Reassumiu o mandato, mas continuou em rota de colisão com o antigo partido, do qual se desligou no ano passado. Afirmou então se sentir frustrado pela não-realização das "mudanças" prometidas. Filiou-se depois ao PDT, dando seqüência ao mandato que se estenderá até 2011.
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