| 25/09/2006 19h34min
A realização da eleição proporcional para deputado federal significa uma oportunidade para os eleitores expressarem sua opinião sobre o mandato dos representantes na Câmara Federal. Depois da crise política dos últimos dois anos e das denúncias envolvendo vários parlamentares, o pleito de 2006 pode simbolizar um ajuste de contas entre eleitores e políticos ou piorar a opinião dos cidadãos sobre o Congresso e os partidos, reiterada por pesquisas. Segundo dados do Latinobarômetro de 2005, estudo realizado em toda a América Latina, apenas 28% dos cidadãos confiam no Congresso e somente 19%, nos partidos políticos.
Entre os cientistas políticos, no entanto, há consenso de que a crise não terá efeitos imediatos sobre a cultura política do país. Os estudiosos são unânimes em afirmar que não esperam uma renovação substantiva da Câmara para o próximo mandato. O consultor Bolívar Lamounier e Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acreditam que muitos dos políticos envolvidos em escândalos voltarão à Casa.
O consultor político da Câmara Antônio Octávio Cintra lembra que, historicamente, há uma renovação de aproximadamente 40% dos parlamentares a cada eleição. O crescimento no índice de renovação da Câmara desde a Constituição de 1988 também foi destacado pelo pesquisador em Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) por Luiz Pedone, que ressalta ainda que houve uma mudança no perfil dos deputados desde a década de 80.
– O número de deputados não-políticos profissionais tem aumentado consideravelmente. Mais candidatos oriundos de profissões que têm a ver com as grandes massas, como jornalistas e radialistas, têm sido eleitos – esclarece.
O professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) José Álvaro Moisés alerta para o perigo de o desgaste das instituições democráticas, o déficit de representação e o envolvimento do Congresso nos escândalos atingirem o valor da democracia.
Estudioso da cultura política desde a década de 80, Moisés acredita que o atual panorama é perigoso, pois mais ou menos um terço dos brasileiros que têm convicção democrática não incluiria os partidos e o Congresso no sistema.
– Vejo aí a formação de uma reserva de apoio aos regimes autoritários, antidemocráticos. No momento esta não é uma alternativa presente, mas se a longo prazo houver uma deslegitimação da democracia, significa que a reserva de apoio para ela diminuirá – alerta.
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