No foco do escândalo da compra de dossiê contra tucanos, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, chegou por volta de 11h40min ao Palácio da Alvorada para encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vai cobrar explicações do coordenador de sua campanha sobre seu envolvimento e o de outros petistas no episódio. Lula chegou a Brasília às 8h40min, procedente de Nova York, onde participou de Assembléia-Geral da ONU.
Participam da reunião os ministros da Justiça, Mácio Thomaz Bastos, das Relações Institucionais, Tarso Genro, e da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci. Eles buscam junto com o presidente uma saída para a crise. O governo estuda afastar todos os suspeitos de suas funções, inclusive Berzoini, coordenador da campanha de Lula.
Já chegaram também ao Palácio da Alvora o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PcdoB-SP), e o marqueteiro do PT, João
Santana.
Em conversas
por telefone com assessores, o presidente transmitiu de Nova York sua contrariedade com o episódio. E disse não estar convencido das explicações de Berzoini, que admitiu em nota na noite desta terça-feira que tinha a informação de que integrantes do PT procuraram a revista Época com denúncias contra Serra. ( Entenda o caso da compra de documentos)
– O Berzoini tem que explicar o que está aconteceu. Se alguém do PT está envolvido, que assuma. Não vamos ficar sangrando como ocorreu no episódio Waldomiro Diniz – disse Lula para um assessor, numa referência ao escândalo do ex-assessor parlamentar da Casa Civil, flagrado cobrando propina.
O presidente defendeu investigações detalhadas para apontar os responsáveis pela negociação do dossiê. E lembrou que nunca utilizou deste artifício nas campanhas anteriores e que agora não vai permitir que façam insinuações contra o
governo:
– Acho esse tipo de coisa
abominável.
Na nota, Berzoini, que é coordenador nacional da campanha do presidente Lula à reeleição, se defende e diz que jamais teve ciência do conteúdo abordado no encontro, segundo ele, para tratar de uma pauta de interesse jornalístico. A revista diz, por sua vez, ter sido procurada, há duas semanas, por Oswaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho e atual responsável pelo capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo do presidente Lula. Bargas é casado com uma secretária de Lula.
Num encontro com um repórter da revista, na qual estava presente Jorge Lorenzetti, acusado de encomendar o dossiê contra Serra, Bargas disse que tinha denúncias contra políticos que poderiam ser comprovadas por meio de fotos, vídeos e de uma "farta documentação".
Na noite desta terça-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acolheu o pedido do PSDB e abriu
investigação eleitoral contra o presidente Lula. Além do presidente,
serão investigados o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Gedimar Passos, Valdebran Carlos Padilha da Silva e Freud Godoy. Gedimar e Valdebran foram presos em um hotel de São Paulo, com R$ 1,7 milhão quando tentavam comprar o dossiê contra José Serra, e foram soltos na noite desta terça-feira por determinação da Justiça . Assessor de Lula, Freud é apontado como a pessoa que teria encomendado o dossiê. Ele teve o pedido de prisão negado pela Justiça. Todos serão investigados pela prática de poder político e econômico em beneficio de Lula.
AGÊNCIA O GLOBO