| 19/05/2006 15h18min
O governo brasileiro confirmou hoje que as negociações diplomáticas para normalizar suas relações com a Bolívia prosseguirão na segunda, dia 22, após ter anunciado nesta quinta medidas para reduzir sua dependência do gás boliviano.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, viajará no domingo a La Paz, onde se reunirá com diferentes autoridades bolivianas, embora ainda não esteja confirmado um encontro com o presidente Evo Morales, disseram hoje porta-vozes do Itamaraty.
A visita de Amorim à capital boliviana foi confirmada um dia depois que o governo brasileiro anunciou várias medidas para garantir a auto-suficiência energética, com as quais poderá reduzir significativamente sua dependência do gás e do diesel importado.
Uma das medidas permitirá à Petrobras aumentar, até 2008, sua produção diária de gás natural em 24,2 milhões de metros cúbicos, praticamente o mesmo volume importado atualmente da Bolívia (26 milhões de metros cúbicos diários). A Petrobras esclareceu que não pretende suspender as importações de gás do país vizinho, mas sim reduzir sua dependência, garantir o atendimento à demanda futura do combustível e descartar o projeto com o qual pretendia aumentar em cerca de 45 milhões de metros cúbicos diários o gás natural importado.
– O chanceler abordará, em visita a La Paz, toda a agenda das relações bilaterais, que inclui os hidrocarbonetos e o preço do gás importado – segundo um porta-voz do ministério das Relações Exteriores.
A visita de Amorim foi definida na reunião feita há uma semana em Viena entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega da Bolívia, Evo Morales, para tentar reduzir o mal-estar bilateral após a decisão do governo boliviano de nacionalizar os hidrocarbonetos.
A Petrobras, a maior empresa estrangeira na Bolívia, com investimentos de cerca de US$ 1,5 bilhão nos últimos anos, foi a companhia petrolífera mais afetada pela decisão boliviana. As negociações para definir o novo papel que a Petrobras terá na Bolívia e o preço do gás importado pelo Brasil foram iniciadas há nove dias em La Paz por uma delegação da qual fizeram parte o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli.
Entretanto, a obtenção de um acordo foi posta em dúvida quando Morales, também em Viena, acusou a Petrobras de ter operado "ilegalmente" em seu país e disse que a Bolívia não indenizará as empresas estrangeiras afetadas pela nacionalização.
Após sua reunião com Lula na Áustria para esclarecer as divergências, o presidente boliviano garantiu o fornecimento de gás e disse que seu país tinha "muito interesse em aumentar" os volumes exportados ao Brasil.
Essa última possibilidade ficou completamente descartada após a reunião de ontem à noite do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), coordenada por Lula, na qual foram decididas medidas para reduzir a dependência de combustíveis importados.
Uma das medidas prevê o adiantamento, de 2012 para 2008, da produção nas reservas de gás que a Petrobras descobriu no litoral do Espírito Santo, que permitirão ao país aumentar em 24,2 milhões de metros cúbicos diários sua produção.
Ficou decidido também a adaptação das termoelétricas brasileiras, atualmente alimentados com gás natural, para que possam operar também com gás liquidificado de petróleo (GLP), gás natural liquidificado (GNL) e etanol (combustível produzido a partir da cana de açúcar).
Com essas medidas, a Petrobras pretende aumentar sua oferta nacional de gás, reduzir o consumo e garantir o abastecimento futuro de um combustível cuja demanda cresce 20% anualmente no país.
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