| 15/05/2006 17h23min
A violência e o medo voltaram hoje a tomar conta de São Paulo, primeiro dia útil e terceiro consecutivo desde o início da ofensiva do crime organizado, que deixou mais de 80 mortos. A onda de violência que atinge São Paulo desde a sexta continuou hoje a plena luz do dia com a queima de ônibus municipais, enquanto mais de 20 prisões continuam nas mãos de presos amotinados, que mantêm cerca de 200 pessoas como reféns.
Entre a noite do domingo e o meio-dia de hoje, 70 ônibus foram incendiados na capital e em cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Cerca de 10 empresas de transporte público foram obrigadas a tirar de circulação cerca de 4,5 mil veículos da maior cidade do país, fazendo com que cerca de 3 milhões de pessoas ficassem sem meios de transporte. Muitos dos ônibus atingidos queimaram até ficar reduzidos a escombros, pois os bombeiros não conseguiram dar conta das inúmeras chamadas de emergência. Os criminosos, que em três dias perpetraram mais de 180 ataques, também atearam fogo a 13 agências bancárias, e nesta manhã atiraram contra uma estação do metrô, dois postos de vigilância de trânsito e um posto policial, este última no elegante bairro de Higienópolis, na zona oeste da Capital. Em outras cidades do Estado, também foram atacadas nesta madrugada postos da polícia e tribunais, sem que houvesse vítimas, segundo disseram as autoridades. A ofensiva foi comandada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), em represália à transferência de 765 reclusos, entre os quais os líderes do grupo, a presídios de segurança máxima. A ousadia dos criminosos espalhou pânico entre a população, até o ponto em que muitas escolas da capital suspenderam hoje suas aulas, enquanto as autoridades estaduais continuam sem dar uma resposta satisfatória aos ataques. A Secretaria de Educação, no entanto, disse que as aulas amanhã estão mantidas. A Faculdade de Direito São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), suspendeu as atividades das 17h ao meio-dia desta terça-feira. O centro da cidade está vazio, e a movimentação de carros de polícia é constante. Dois shoppings da Zona Sul fecharam as portas por volta das 17h, assim como muitos comerciantes. – A audácia desmedida dos criminosos em São Paulo e a falta de incentivo à atividade policial são a receita do caos que estamos vivendo – disse hoje o presidente da Associação de Delegados de Polícia de São Paulo, André Rissio. O governador de São Paulo, Claudio Lembo, que no sábado rejeitou a oferta da Polícia Federal de ajudar no combate ao crime organizado, não dá declarações à imprensa desde então, silêncio que se estendeu aos responsáveis diretos da segurança pública. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu hoje um relatório sobre a situação das mãos do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que pôs à disposição das autoridades de São Paulo até 4 mil efetivos da Força Nacional de Segurança. O envio da Força Nacional depende, no entanto, de uma solicitação formal feita pelo governador às autoridades federais, o que não ocorreu até agora. Alguns analistas sugeriram que o governo federal declare estado de defesa em São Paulo, o que significaria medidas coercitivas com as quais as autoridades poderiam responder com toda a força da lei à brutal ofensiva criminosa. Entre o domingo e hoje também ocorreram motins em várias prisões do Mato Grosso do Sul e do Paraná, aparentemente provocados por presos vinculados ao PCC. CLICRBS E AGÊNCIA EFEGrupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2024 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.