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 | 09/05/2006 14h51min

Lula rejeita ingerência de Chávez na América do Sul, diz Amorim

Ministro respondeu às perguntas dos senadores sobre a Bolívia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou seu colega venezuelano, Hugo Chávez, de que sua ingerência regional prejudica a integração e o projeto de um gasoduto sul-americano, disse hoje o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, perante o Congresso.

O chanceler, em audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, falou sobre as repercussões no Brasil da recente nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia.

Boa parte de seu discurso girou em torno da influência e do papel do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na América do Sul. Vários senadores criticaram a presença em uma cúpula presidencial realizada na semana passada na cidade argentina de Puerto Iguazú, na fronteira com o Brasil. Nessa reunião, convocada por Lula, e que teve a presença dos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, da Bolívia, Evo Morales, além do próprio Chávez, foi discutida a segurança energética regional após a nacionalização do gás na Bolívia, por decreto presidencial de 1º de maio.

Amorim justificou a presença de Chávez em Puerto Iguazú por ser uma ação que "não pode ser vista fora do contexto mais amplo da integração energética da América do Sul".

– Mas sim, foi transmitido ao Chávez o nosso desconforto e o desconforto pessoal do presidente Lula com algumas dessas ações que foram praticadas – disse o chanceler.

No debate, alguns senadores expuseram a tese de que Chávez tenta usar a estatal venezuelana PDVSA para treinar técnicos bolivianos que passariam a operar as instalações de petróleo e gás da filial da Petrobras na Bolívia.

– Não posso julgar. Não sabemos qual era a intenção do presidente Chávez, mas o fato concreto é que quando certas ameaças estavam sendo transmitidas pela imprensa (da Bolívia para o Brasil), isso se dá paralelamente a uma grande presença de funcionários de PVDSA – na Bolívia, disse Amorim.

O ministro das Relações Exteriores reconheceu que Chávez mantém uma "inegável influência" sobre Morales, o que ficou evidente na nacionalização do gás natural decretada por La Paz.

Amorim também se referiu à presença de Chávez há duas semanas em uma reunião de presidentes da Bolívia, Uruguai e Paraguai, onde ele fez feitas duras críticas ao Mercosul. Segundo o chanceler, esse mal-estar foi transmitido de forma "inequívoca" pelo presidente Lula, que disse a seu colega venezuelano que essa postura "colocava em risco não só o gasoduto, mas a própria integração sul-americana".

Chávez é considerado o maior entusiasta da construção de um gasoduto de cerca de oito mil quilômetros de extensão que ficaria pronto entre 2017 e 2019 e que levaria gás venezuelano ao Brasil, cruzaria o território nacional e chegaria à Argentina. Sobre o Mercosul, Amorim disse que chegou a dizer ao presidente venezuelano que "não é o Mercosul o que tem que se adaptar à Venezuela, mas a Venezuela é que tem de se adaptar ao Mercosul".

AGÊNCIA EFE
 

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