Em discurso na conferência internacional do trabalho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não há crise entre o Brasil e a Bolívia. Na mesma linha da nota divulgada ontem, na qual o governo brasileiro reconheceu a soberanaria do país vizinho em nacionalizar as reservas de petróleo e gás, Lula defendeu o direito do povo boliviano de usufruir sua maior riqueza.

– Não tem crise entre Brasil e Bolívia. Tudo será resolvido na mesa de negociações. Aquele povo sofrido tem o direito de reivindicar maior poder sobre a maior riqueza que tem – afirmou Lula, sendo aplaudido pela platéia.

Lula admitiu que "os bolivianos têm direitos", mas esclareceu que isso "não significa negar os direitos do Brasil", que investiu, através da Petrobras, mais de US$ 1 bilhão na Bolívia nos últimos anos.

O presidente disse que não se deve maximizar os efeitos da decisão boliviana.

– O que a gente não pode é maximizar isso, dar uma dimensão que não tem. O Brasil tem interesse na Bolívia assim como a Bolívia tem interesse no Brasil. Não vamos descobrir qualquer arma na Bolívia para justificar uma briga – disse Lula, em referência ao pretexto usado pelo presidente americano, George W. Bush, para invadir o Iraque.

Segundo o presidente, o interesse de empresários, diplomatas ou sindicatos não vai prevalecer na política externa da América Latina. Lula disse que é preciso uma política de Estado que garanta uma boa relação com os países vizinhos.

– Não é política de empresário, não é política de diplomata, não é política de sindicato. É política de Estado e, nessa política, nós temos que estar bem com todos os países do nosso continente e vamos estar – disse Lula.

A Bolívia é responsável por cerca de metade do gás natural consumido pelo mercado brasileiro, através de um gasoduto de 3.200 quilômetros operado pela Petrobras, com capacidade para trafegar 30 milhões de metros cúbicos por dia.