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 | 07/04/2006 20h58min

Premiê italiano brilha por pérolas em campanha

Silvio Berlusconi se comparou a Jesus Cristo e a Napoleão

Mais veemente que nunca, Silvio Berlusconi brilhou na campanha eleitoral italiana não por seus bem construídos discursos, mas pelo rosário de insultos que disparou, como coglioni (imbecis), usado para qualificar os que não votem nele, e sua versão sobre as crianças cozidas na China comunista. “Scatenato", nome em italiano dado às pessoas intempestivas, o primeiro-ministro deixou de lado durante a campanha os bons modos e lançou mão de uma linguagem qualificada pela oposição, de esquerda, como própria de "cabareteira de quarta classe".

Berlusconi, que popularizou a frase "mi consenta", que significa "permita-me", usada por pessoas educadas para pedir permissão e dar uma opinião, passou desses bons gestos a classificar o líder da oposição, Romano Prodi, de "tolo útil" e "desgraçado". E não parou por aí. Diante de um grupo de estudantes que recebeu na sede do governo, disse que todas as jovens do mundo do espetáculo operam os seios aos 23 anos, enquanto ele tocava o próprio peito e o realçava, para dar mais ênfase a suas palavras.

Se os estudantes ficaram assombrados com a cena, muitos católicos se sentiram da mesma forma quando o chefe de governo assegurou ser "o Jesus Cristo da política, uma vítima paciente que se sacrifica por todos". Por se sentir "Jesus Cristo", batizou seus partidários durante um comício "como os missionários da verdade".

Não satisfeito com a nada modesta comparação, também disse que só Napoleão Bonaparte fez mais coisas que ele. E para não ficar por baixo, não hesitou em acrescentar: "Mas, de qualquer forma, sou mais alto que Napoleão".

Já eram mais que suficientes, mas o repertório de pérolas enriqueceu ainda mais com sua comparação com Winston Churchill, quando afirmou em terceira pessoa: "Silvio Berlusconi nos liberta dos comunistas", como o ex-premier britânico fez com os nazistas. Nesse 'in crescendo' afirmou, em um comício em Nápoles, que na China de Mao "as crianças eram cozidas para abonar os campos", o que provocou um protesto das autoridades chinesas.

– Quem ler o Livro Negro do Comunismo saberá que na China de Mao não se comiam criancinhas, mas elas eram cozidas para abonar os campos. Uma coisa horrenda, mas infelizmente verdadeira – afirmou em meio aos aplausos de seus fãs.

Foi a senha para um escândalo. A esquerda disse que Berlusconi desacreditara a Itália, mas alguns de seus aliados, como Alessandra Mussolini, neta do Duce, afirmou que o premier não dissera toda a verdade sobre a China de Mao. A polêmica parecia não acabar, mas, como de costume, um escândalo encobre o anterior.

Poucas horas depois de anunciar que, em caso de vitória, acabaria com o imposto sobre a primeira casa, chamou de "imbecis" os italianos que não votarem nele, o que representou um insulto para mais ou menos a metade do país, segundo as últimas pesquisas. A esquerda, que durante toda a campanha manteve, em comparação com Berlusconi, um perfil ameno no que se refere aos insultos, respondeu chamando-o de "miserável" e "provocador". Paralelamente, começou a rebelião dos "coglioni". Foram criados sites, visitados por dezenas de milhares de "coglioni", felizes por sua condição, segundo escreveram. Nos comícios da esquerda, cartazes mostravam frases como "melhor ser 'coglioni' que votar em Berlusconi".

Segundo a esquerda, a graça do rei da TV privada se transformou em um bumerangue. Em um dos momentos de maior tensão, durante o último debate televisivo com Romano Prodi, o candidato de oposição disse a Berlusconi, em referência aos dados que expunha, que o premier se agarrava aos números "como um bêbado a um poste de luz, não para que este o ilumine, mas para se sustentar". Berlusconi, irado, perdeu de novo a compostura e disse ao líder de centro-esquerda que este tinha jeito de "padre bonachão" e era "um tolo útil" que fazia o jogo dos comunistas.

O premier italiano esbravejou, durante toda a campanha, contra os comunistas. Afirmou que o velho Partido Comunista Italiano (PCI) "recebia dinheiro manchado de sangue procedente da URSS", governada por Stalin e Lenin, "duas pessoas más que odiavam a vida".

AGÊNCIA EFE
 

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