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 | 09/03/2006 14h51min

Gripe aviária pode chegar ao Brasil

Especialistas afirmam que chance é reduzida mas é preciso estar preparado

Apesar de reduzidas, as chances de a gripe aviária chegar ao Brasil não devem ser descartadas. Segundo especialistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Paulo, o maior risco da chegada da doença é por meio das aves migratórias.

– Não sabemos se haverá uma pandemia de proporções mundiais, mas hoje as chances são muito maiores do que em 1997, quando surgiu a cepa do H5N1 [vírus causador da doença]. Por conta disso, estamos nos preparando – disse José Cerbino Neto, coordenador do Centro de Internação do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Por enquanto a gripe aviária ainda não é transmitida entre pessoas, muito menos pelo consumo de carne de aves infectadas, pois o processo de cozimento dos alimentos elimina o vírus. A grande preocupação é que mutações genéticas do vírus possam tornar a doença contagiosa entre seres humanos.

– Temos poucas descrições para chegar a um quadro completo de como essa doença poderá se apresentar no Brasil. O conhecimento muda a cada novo caso descrito. Não necessariamente o vírus que possa causar uma pandemia mundial será o mesmo que hoje está provocando a gripe aviária. Ele pode sofrer muitas mutações até se tornar um vírus pandêmico – explica. 

A principal precaução adotada mundialmente é um plano de prevenção desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, esse plano está sendo gerido pelos ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A idéia é fazer com que todos os Estados adotem medidas de acordo com suas realidades regionais.

– A preparação para uma possível pandemia mundial da doença está dividida em seis fases, que vão desde a fase interpandêmica até a de pandemia instalada. O Brasil está atualmente trabalhando na fase 3 da OMS, que corresponde à ocorrência de casos esporádicos fora do nosso continente – conta Cerbino Neto.

Isso quer dizer que devemos hoje contar com um aparato máximo de biossegurança para o diagnóstico e tratamento de casos importados, pois ainda não há registros de transmissão dentro do país.

Ariel Mendes, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, ressalta que ainda não foi confirmado nenhum caso no país e que só no Estado de São Paulo são analisadas em média três suspeitas por semana da doença em animais.

– Quando maior é a exposição do problema na mídia, maior o número de casos suspeitos. Essas análises servem para testar a estrutura de defesa instalada no país – conta.

O instituto Butantan produzirá experimentalmente uma pequena quantidade de vacinas humanas contra a gripe aviária. 

– A princípio serão produzidas vacinas para as outras variantes de vírus que mais circulam em todo o mundo, o H3N2, o H2N1 e o H1N1, que não têm a mesma patogenicidade do H5N1 – disse Edison Luiz Durigon, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).

O pesquisador acredita que todo o estado de alerta que se criou para uma possível pandemia mundial da doença é totalmente justificável.

– Temos que estar preocupados, apesar de não ser preciso entrar em pânico, pois o H5N1 pode nunca se adaptar ao homem. O que preocupa é o alto grau de letalidade do vírus, além da sua fácil adaptação em células de mamíferos, o que o torna um forte candidato a se tornar pandêmico – afirmou Durigon.

AGÊNCIA FAPESP
 

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