| 06/01/2006 10h14min
– O PT é uma página virada em minha vida.
Essa frase, dita pelo ex-deputado José Dirceu (PT-SP), revela o nível das divergências internas do partido. Dirceu está em Paris, ao lado do escritor e jornalista Fernando Morais, iniciando uma nova fase da vida, agora como advogado e escritor, preparando os depoimentos para o livro em que relata a experiência de 30 meses na Casa Civil.
De volta de Tarbes, sul da França, onde passou o Réveillon como hóspede de outro escritor, Paulo Coelho, o ex-deputado do PT de São Paulo não considera o frio do inverno parisiense como um novo exílio.
– Eles tentaram banir-me da vida pública, mas não conseguiram – diz, sobre os que batalharam pela cassação de seu mandato.
Dirceu afirma não ter mágoas de ninguém, nem mesmo de antigos companheiros de legenda - incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, mas reage sempre com estocadas quando cita alguns nomes, como os do ex-presidente nacional da sigla Tarso Genro e do deputado estadual Raul Pont.
– Ficar no PT para ouvir os discursos do Tarso e do Raul Pont não dá – ironiza, ao mencionar um eventual futuro na vida partidária só como militante.
O ex-deputado avisa:
-– Os que me conhecem sabem que não tenho meio-termo e quando entro é para valer, para brigar, lutar, impor-me. Senão, fico de fora. Como essas não são as condições atuais, estou chegando à conclusão de que o melhor é ficar de fora.
Mas ele deixa uma porta entreaberta:
– Só mudo de posição se me chamarem para a briga. Afinal, conto com o apoio da maioria do partido e Tarso não representa 3%.
O ex-capitão do time de Lula repete que "virou a página", mas hesita em optar por um ano sabático em 2006, ano em que Lula deverá lutar em condições bem mais difíceis para assegurar um segundo mandato. De acordo com ele, as chances do presidente dependem dos programas sociais, como o Bolsa-Família:
– Afinal, a própria mídia que o ignorou no início já está reconhecendo seu valor.
Dirceu se diz convencido também de que os tucanos não estão em boa posição.
– Seu melhor nome, Fernando Henrique Cardoso, aparece em quarto lugar nas pesquisas - diz o ex-ministro, com ironia, deixando de lado, propositadamente, o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidatos a presidente.
Seja qual for o vencedor, afirma Dirceu, terá dificuldades para governar sem uma reforma administrativa. Ele mostra as preferências na disputa pelo governo de São Paulo:
– A imensa maioria dos que me apóiam é favorável à candidatura da Marta (Suplicy, pré-candidata a governador).
A frase é um sinal de que as relações com o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), o outro interessado no cargo, não saíram ilesas da crise.
Dirceu negou ter viajado de primeira classe para Paris e em companhia da mulher, Maria Rita:
– Não vim com minha mulher e ninguém pagou minha passagem. Poderia ter vindo de primeira, se quisesse, pois acumulei milhas suficientes.
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