Agricultura | 27/07/2011 14h18min
Há quem acredite que, um dia, o grão se tornará um subproduto do arroz. Considerando que o cereal é base da alimentação de mais da metade da população mundial, parece absurdo aceitar tal prognóstico.
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No entanto, as possibilidades de aproveitamento desse vegetal vão além dos limites gastronômicos. Há anos, pipocam negócios lucrativos cuja matéria-prima encontra-se aos montes nos engenhos gaúchos: a casca do arroz.
Líder na orizicultura nacional, o Rio Grande do Sul colheu 9 milhões de toneladas na última safra. Desse total, 22% correspondem à casca. Há cerca de uma década, esse cerca de 1,9 milhão de toneladas do resíduo seria um problema. Hoje, é a solução para uma vasta gama de segmentos econômicos.
Em 2000, a indústria de beneficiamento Camil Alimentos, instalada em Itaqui, percebeu que poderia reduzir custos se produzisse a energia que consumia. Investiu R$ 5 milhões para construir aquela que seria a primeira usina de biomassa de casca de arroz do Estado, com capacidade de 4,5 MW.
Com alto poder calorífico e regularidade térmica, o resíduo é matéria-prima para processos termelétricos com a vantagem de poluir bem menos o ambiente, ao contrário de recursos convencionais, como o carvão. Para se ter ideia, uma tonelada de casca equivale a dois barris de petróleo.
Segundo o engenheiro químico Gilberto Amato, pesquisador da Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), atrás de créditos de carbono, fundos de pensão da Suíça e da Alemanha transformaram o Rio Grande do Sul em fornecedor de fonte para energia limpa.
- O próprio Rudolf Diesel (inventor do motor a diesel) defendia a teoria de que o agronegócio tinha de ser independente em termos de energia. E a casca do arroz propicia isso para a indústria - explica o pesquisador, autor de estudos bioquímicos sobre o cereal.
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Do cimento ao chip
Além do poder calorífico, a casca de arroz guarda uma propriedade preciosa. Nela, podem ser encontrados até seis vezes mais dióxido de silício (ou sílica) do que em outros cereais. Composto químico, cristalino e abundante na crosta terrestre, a sílica é responsável por uma espantosa versatilidade no uso da casca: a partir dela, pode-se produzir borracha, cimento e até chips eletrônicos.
Há 10 anos, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Milton Ferreira de Souza apresentou sua pesquisa na Associação Comercial e Industrial de São Borja. Seu estudo indica que o composto aumenta a resistência da estrutura e reduz a espessura do concreto.
- A sílica possibilitará obras com maior espaço útil, economizando material - analisa o professor.
O aproveitamento do dióxido de silício conquistou a atenção de empresas do Estado. Em Alegrete, a indústria de arroz Pilecco, além de gerar energia com a queima da casca, criou um método para extrair sílica das cinzas restantes do processo de combustão. O produto é revendido e a iniciativa rendeu à empresa os prêmios Leader Quality e Qualidade Brasil.
Outra característica da casca é seu poder de bloquear a incidência solar. Gilberto Amato explica que, não fosse o resíduo, o grão de arroz não se desenvolveria:
- A radiação esterilizaria a semente. Na casca, há um sistema que impede a passagem dos raios.
Ou seja: o extrato da casca de arroz pode ser usado como protetor solar.
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