Economia | 25/05/2011 07h10min
No comando da BSD Brazil e sócio-fundador da BSD Group, consultoria focada em desenvolvimento sustentável, responsabilidade social empresarial e comércio justo, o suíço Beat Grüninger é especialista em relatórios de sustentabilidade. Pós-graduado em Países em Desenvolvimento pelo Instituto Federal de Tecnologia (ETH), de Zurique, e com um trabalho no comitê suíço da Unicef, como oficial de comunicação, em seu currículo, o consultor esteve em Porto Alegre na semana passada ministrando um workshop sobre o certificado Global Reporting Iniciative (GRI), um dos modelos de relatório mais utilizados atualmente no mundo. O evento foi uma parceria com o Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) e a PUCRS. Também foi a primeira vez que o curso foi oferecido fora do eixo Rio-São Paulo. Confira abaixo trechos da entrevista com o consultor:
Nosso Mundo Sustentável - Empresa que faz relatório de sustentabilidade é sinônimo de empresa sustentável?
Beat Grüninger - Não. Uma empresa que faz relatório é uma empresa transparente. A sustentabilidade depende muito do negócio.
NMS - Grande parte dos relatórios de sustentabilidade é difícil de entender e não atraente para o público em geral. Por que ocorre isso?
Grüninger - Tem muito a ver com o entendimento do relatório, se ele é baseado no acúmulo de dados sem fazer uma leitura de relevância.
NMS - Quais são as premissas básicas para que a empresa faça um bom relatório?
Grüninger - Os melhores relatórios são curtos e vão direto ao ponto. As empresas escolhem os principais assuntos, falam dos impactos que eles causam e das medidas a serem tomadas. Costumamos falar do princípio da materialidade: a empresa tem de relatar os principais fatos e não necessariamente acumular muitas informações irrelevantes que complicam o entendimento. Não se deve produzir relatórios com autoelogios quando é sabido que toda empresa tem problemas a resolver — é preciso apresentar metas. Se eu mostro claramente que a empresa tem um problema, que quer acabar com o uso de tal produto até 2015, isso é muito mais importante do que muitas páginas sobre projetos ou patrocínios. Esse é o caminho para elevar a credibilidade e o interesse. Até para a mídia isso vai ser mais atraente. A internet também é uma forma interessante para as pessoas receberem as informações, por meio das mídias sociais, por exemplo.
NMS - Qual a importância de seguir um padrão como o GRI?
Grüninger - É importante seguir um padrão internacionalmente reconhecido, que foi construído a partir de um grande número de partes interessadas. O modelo já é um consenso entre sociedade e mundo empresarial sobre o que a sociedade espera que seja relatado pelas empresas. Seguindo esse padrão, você satisfaz grandes demandas de informação que ONGs, ambientalistas, governos e - cada vez mais - investidores buscam.
NMS - O padrão dá credibilidade ao relatório?
Grüninger - Sim, pois eleva a qualidade e a necessidade de integrar temas críticos. Até o surgimento do GRI não existia um padrão, então empresários resolviam colocar uma foto bonita de crianças e tratavam sobre projetos sociais, sem falar em dívidas, impacto social na comunidade ou governança.
NMS - Por que é importante que empresários leiam relatórios de sustentabilidade?
Grüninger - Para uma empresa ter longevidade, é preciso pensar a questão da sustentabilidade. Não basta ser altamente lucrativa, quando se tem muita rotatividade ou se fecha as portas devido a um acidente ambiental. Hoje, o mercado financeiro está começando a valorizar essas questões. As empresas tem de se antecipar a essa demanda, e o relatório é uma marca de qualidade.
NMS - O ideal seria um equilíbrio, então. Nem um calhamaço de papéis com um monte de dados, nem uma peça puramente publicitária.
Grüninger - Sim, uma mescla onde o compromisso permanece. Não é preciso cem páginas para mostrar comprometimento com mitigação de impacto.
NMS - As empresas brasileiras fazem bons relatórios de sustentabilidade?
Grüninger - Existe uma pesquisa da consultoria inglesa Sustainability que aponta os 10 melhores do Brasil, entre eles Natura, Celulose Irani e empresas distribuidoras de energia. Há uma classe muito avançada, mas a maioria está abaixo da média mundial na qualidade.
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