Arquitetura | 15/04/2011 23h52min
O descarte do que deixamos de utilizar é um dos grandes entraves da civilização, que cada dia consome mais e mais. E o que pensar, então, quando o objeto a ser descartado pode ser uma grande caixa com mais de 12 metros de comprimento? A falta de espaço para a armazenagem, o alto custo e o grande consumo de energia para transformar contêineres velhos – aqueles usados para transporte de bens em navios, por exemplo – novamente em aço são alguns dos motivos que fazem com que a cultura do reuso dessas estruturas tenha crescido nas cabeças mais antenadas do mundo.
Outro argumento de quem decidiu começar a projetar residências, lojas ou, até mesmo, condomínios usando um ou mais contêineres como módulo-base é a redução do preço final da obra, que pode variar de 20% até 40% em relação às tradicionais. Além disso, costuma ser mais barato comprar um contêiner novo do que recondicionar os antigos, o que colabora para as pilhas de contêineres com pouco valor de mercado próximo aos portos.
Por motivos como esses, em diferentes partes do mundo, arquitetos e engenheiros têm usado o que seria lixo para construir de forma mais barata, rápida e com menos produção de resíduos. Um grande condomínio de estudantes em Amsterdã, na Holanda, e outro no Japão são alguns dos exemplos mais difundidos da onda de reaproveitar contêiner na construção civil. Enquanto uma empresa americana planeja um shopping center, em São Paulo, Brasília e Porto Alegre, casas e escritórios inovadores já foram estruturados e expostos em mostras. Todos inovam com diferentes técnicas para garantir, primeiramente, conforto aos moradores e, depois, afastar a ideia de que um contêiner não pode ser um lugar adequado para se morar.
No início de maio, Porto Alegre recebe a franquia de uma loja que pipoca pelo país e tem como base uma dessas estruturas: a Container – Ecology Store. A iniciativa é do goleiro do Internacional Lauro Cruz, que quer reforçar o conceito de redução do impacto ambiental.
– A minha própria casa também tem conceitos verdes, acho que o fato de ter nascido no interior de São Paulo, próximo de matas, influenciou muito nisso – acredita o jogador.
Além do módulo-base ser reaproveitado, a loja conta com araras feitas de corrimãos de ônibus e decks de madeira plástica fabricada com casca de arroz (veja no infográfico). Para o proprietário da franquia, André Krai de Oliveira, o desafio não é tecnológico e, sim, cultural. Os arquitetos André Detanico e Danilo Corbas, responsáveis por outras iniciativas envolvendo esse material, concordam com Oliveira.
– O grande desafio técnico é o conforto térmico e acústico, mas isso sabemos resolver. Já a ideia que as pessoas fazem de um contêiner é mais difícil de mudar – lamenta Detanico.
Por que é uma boa ideia
— Contêineres têm uma vida útil que varia entre oito e pouco mais 20 anos.
— Usá-los como módulos de construção civil é uma ideia inteligente e barata, já que o descarte de peças tão grandes é difícil e transformá-los demanda recursos naturais e dinheiro. Eles podem ser desmontados, derretidos e transformados novamente em metal, mas esse processo gasta energia e água.
— Os contêineres costumam servir como base em grande parte das obras, uma forma importante de reutilização. Com o bloco já pronto, menos matéria-prima sai do ambiente direto para o canteiro de obras.
— Quem opta por usar um contêiner em sua obra constrói praticamente com a metade do tempo de uma obra convencional e produz menos resíduos, já que o módulo está pronto para o encaixe.
— Além disso, muitas das obras desenvolvidas a partir de um contêiner podem ser transportadas ou, ainda, expandidas com novos blocos.
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